terça-feira, 29 de setembro de 2015

Neurociência: Cérebro e Nutrição

Suzana Herculano-Houzel 

Comida para pensar

A neurocientista Suzana Herculano-Houzel defende que a invenção da cozinha garantiu ao ser humano um cérebro maior e mais sofisticado. A dieta crua é insuficiente para manter o nosso cérebro azeitado e estimulado. Além disso, se adotássemos somente receitas que não vão ao fogo, teríamos de passar mais de nove horas por dia comendo para obter a energia necessária ao bom desempenho dos neurônios, já que  20% da reserva energética do nosso corpo é consumida pelas células nervosas. 

Segundo a cientista,  a invenção do fogão fez o homem atingir cerca de 86 bilhões de neurônios ante os 33 bilhões encontrados no gorila e os 28 bilhões no chimpanzé. 

Embora parecido com o dos ancestrais, com habilidades semelhantes para construir, organizar e memorizar, o cérebro humano é usado com mais requinte; e o alimento cozido tem boa participação nisso.  Com o alimento cozido, a digestão é mais fácil, o que amplia a absorção e aumenta o aporte de calorias e nutrientes. 

A seguir,  ela fala desse seu estudo, publicado na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences e explica como tirar o melhor proveito da alimentação:  

Nossa espécie seria inviável se tivéssemos seguido com a dieta completamente crua? 

Pensando na vida selvagem e em termos evolutivos, há 1 milhão de anos teria sido impossível alimentar o cérebro humano com tantos neurônios. O gorila, que consegue comer por oito horas diárias, tem o cérebro três vezes menor que o nosso. Quanto mais avantajado o cérebro,  maior a quantidade de neurônios e de calorias para nutri-lo. O custo médio é de 6 calorias diárias para cada bilhão de células nervosas. Por isso, criamos a cozinha.

A comida crua não ajuda os neurônios em nada? 

Ela rende pouquíssima energia. Com exceção da maioria das frutas, os alimentos crus são duros e exigem muito tempo de mastigação. Um bife requer uma hora. Se engolirmos mais rápido, a digestão será apenas parcial, já que ele não ficou totalmente exposto às enzimas digestivas na boca. Na prática, uma batata crua com 100 gramas de carboidrato não rende as 400 calorias que poderia. 

Vegetarianos tendem a ter memória e raciocínio melhores do que as pessoas que comem muita carne, cozida ou crua? 

Não. Um vegetariano tem grandes riscos de não ingerir a quantidade suficiente de proteínas, o que faz falta para a manutenção e o bom funcionamento dos neurônios. Proteínas são fundamentais, sobretudo no início da vida, quando o cérebro se desenvolve. Bebês e crianças não devem ser submetidos a dietas vegetais, a não ser sob supervisão médica. E impor um cardápio crudívoro a eles é, no meu entendimento, uma temeridade. 

Por que as crianças amam comer alimentos gordurosos, como pipoca, salgadinhos de pacote e outros tipos de guloseima nada saudáveis? 

Elas amam provavelmente porque precisam das gorduras para sustentar a formação do cérebro. Mas, de gorduras realmente saudáveis. Na infância, está sendo constituída a bainha de mielina, que encapa os nervos do corpo e as fibras nervosas no cérebro, que são responsáveis por acelerar a condução de sinais no sistema nervoso. A mielina é uma capa de gordura com grande quantidade de ômega 3 (fornecida por sardinha, salmão, hadoque, linhaça e chia, entre outros alimentos) e ômega 6 (encontrado em óleos vegetais, nozes e sementes). Para compor a estrutura das células, os adultos também precisam delas. Não conseguimos fabricar gorduras com carboidratos. Mas, manter uma dieta rica nas gorduras saturadas ou trans traz prejuízos para crianças e adultos. 

É possível desenvolver mais o cérebro na fase adulta? 

Aprimorar capacidades, certamente sim. Já desenvolver, no sentido de formar, não. A partir do ato de cozinhar, foi possível seguir com o processo seletivo de um cérebro cada vez maior e mais competente. E sobrou tempo para aprendizados como a escrita, a agricultura e para o relacionamento com o outro. Isso amplia as capacidades. 

A comida industrializada perde propriedades nutricionais e não é parceira do cérebro? 

A cozinha industrial é só uma versão em grande escala da caseira. A diferença é a grande porção de açúcares e de sal colocada para dar sabor, o que faz boa parte dos produtos se tornarem bombas calóricas. Mas, em casa, também se elaboram bombas parecidas. O problema da comida moderna é o teor elevado de calorias que o cozimento proporciona. Nós precisamos é de um cardápio saudável e variado, com proteínas, gorduras e carboidratos. 

Em fases de desafios, que exigem maior clareza mental, é válido reforçar a quantidade de comida cozida? 

Com o grande acesso aos eletrodomésticos, à geladeira, ao supermercado, as pessoas, em geral, já comem mais do que precisam para o bom desempenho do cérebro. Com comida crua seria impossível alimentar o cérebro humano com tantos neurônios.

Essa pesquisa foi feita pela equipe da neurocientista Suzana Herculano-Houzel na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela escreve livros com linguagem simples e usa o jornal, a TV e a internet para divulgar suas descobertas de laboratório. 

Nota de Lucia Rocha: Como diz a autora no início do artigo:  “A dieta crua é insuficiente para manter o nosso cérebro azeitado e estimulado.” Portanto, a dieta Crudivorismo ou Crudismo é insuficiente para nutrir o nosso cérebro. Conforme está explicado acima,  o regime vegetariano também fica devendo nutrientes para o cérebro. 

Fonte e imagem: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/saude/suzana-herculano-houzel-comida-pensar-736087.shtml

Profa. Lúcia Rocha

Um comentário:

Seus comentários são o combustível de todo estes trabalhos... Obrigada