segunda-feira, 21 de setembro de 2015

A História da Arte - 5

Deixamos a arte italiana na época de Botticelli, ou seja, em fins do século XV, a que os italianos chamaram il Quattrocento , ou seja, os “anos quatrocentos”.O início do século XVI, il Cinquecento, constitui o mais famoso período da arte italiana e um dos maiores de todos os tempos. Foi a época de Leonardo da Vincei e Michelangelo, de Rafael e Ticiano, de Correggio e Giorgione, de Dürer e Holbein, no Norte, e de muitos outros mestres famosos.  Esse  grande período é chamado o Alto Renascimento com uma súbita florescência de gênios. 

O artista deixou de ser um artífice entre artífices, pronto a executar encomendas de sapatos, armários ou pinturas, conforme o caso. O  amor à fama por parte dos mecenas (aristocratas patrocinadores dos artistas) ajudou os artistas a derrubarem tais preconceitos. 

 Agora, era o artista quem concedia um favor ao rico príncipe ou potentado, aceitando uma encomenda.  Eles podiam escolher a encomenda que apreciavam, não precisando mais submeter suas obras aos caprichos e fantasias dos clientes.  Finalmente o artista se tornara livre. Mas, essa liberdade ocorreu mais na arquitetura.

Leonardo da Vinci (1452-1519), o mais velho desses famosos mestres, nasceu numa aldeia toscana. Foi aprendiz numa importante oficina de Florença, a do pintor e escultor Andrea del Verochio (1435-1488). 

Bartolomeu Colleoni, Verrochio

A estátua equestre de Bartolomeu Colleoni que Verrochio realizou mostra que ele era um digno herdeiro da tradição do escultor Donatello. O jovem Leonardo aprendeu as técnicas de fundição e outras tarefas metalúrgicas, como quadros e estátuas , fazendo estudos de nus e de modelos vestidos. Aprendeu a estudar plantas e animais curiosos para incluir em seus quadros e recebeu fundamentos básicos de perspectiva e do uso de cores. Leonardo era mais que um jovem talentoso. Ele era um gênio cujo poderoso intelecto será eternamente objeto de assombro e admiração para os mortais comuns. Seus alunos e admiradores preservaram cuidadosamente seus esboços e cadernos de apontamentos, milhares de páginas cobertas de escritos e desenhos. Foi um ser humano que se destacou em diferentes campos de pesquisa e deu importantes contribuições para quase todos eles. Leonardo explorou os segredos do corpo humano, dissecando mais de trinta cadáveres. Assim, ele estudou anatomia fazendo muitos desenhos de partes do corpo humano.

Estudos do feto no útero, da Vinci

Foi um dos primeiros a se aprofundar nos mistérios do crescimento da criança no ventre materno. 

Sobretudo era provável que Leonardo não tivesse a ambição de ser um cientista. A exploração da natureza era acima de tudo um meio de adquirir conhecimentos sobre o mundo visível, conhecimento de que necessitava para a sua arte.

Mas, as poucas obras que Leonardo completou chegaram até nós em péssimo estado de conservação. Assim, quando vemos o que resta do seu famoso mural “A última ceia”, devemos imaginar como seria contemplado pelos monges para quem foi pintado. O mural cobre uma parede de uma sala que era usada como refeitório pelos monges do mosteiro de Santa Maria dele Brazie, em Milão. Nunca um episódio sacro fora apresentado tão próximo e tão real. 

Era como se uma outra sala fosse acrescentada à dos monges na qual a Última Ceia assumia uma forma tangível. Nada havia nesse afresco que se assemelhasse às representações anteriores do mesmo tema. A nova pintura tem drama, teatralidade e excitação. 

A Última Ceia, da Vinci

Outra obra mais famosa ainda é o retrato de uma dama florentina chamada Lisa, “Mona Lisa”. Ela parece olhar para nós e possuir um espírito próprio. A mulher parece viva. O original se encontra no Louvre, em Paris. 

Mona Lisa, da Vinci

O sfumato foi a famosa invenção de Leonardo onde os contornos não são desenhados com a maior firmeza de traços , como se a forma indefinida estivesse desaparecendo numa sombra e tivesse de ser adivinhada pelo espectador. No desenho de um rosto o que dá expressão são os cantos da boca e os cantos dos olhos. Essas partes Leonardo deixou deliberadamente indistintas com o sfumato, o que não nos deixa certos do estado de espírito realmente refletido na expressão com que a Mona Lisa nos olha. Há muito mais por trás do efeito desse sfumato. Leonardo fez uma representação quase milagrosa de carne viva. 

O segundo grande florentino cuja obra tornou tão famosa a arte italiana do Cinquecento foi Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Michelangelo era 23 anos mais moço do que Leonardo e sobreviveu-lhe 45 anos. Em sua longa vida, foi testemunha de uma completa mudança na posição do artistas. Em certa medida, foi ele mesmo quem provocou tal mudança.

 Em sua juventude Michelangelo exercitou-se como qualquer outro artista.  Foi discípulo na oficina de Ghirlandaio (1449-94) que mais explorava a vida colorida do que era um gênio. Michelangelo aprendeu pintura em afrescos e desenho. Mas suas ideias não combinavam com as do seu mestre. Tentou penetrar nos segredos dos escultores antigos, que sabiam como representar a beleza do corpo humano em movimento, com todos os músculos e tendões.

 Tal como Leonardo, estudou anatomia dissecando cadáveres. Mas ele se dedicou a fundo ao desenho de anatomia, desenhando as figuras humanas por ângulos nunca explorados por outros artistas. Aos 30 anos, ele era igualado ao gênio de Leonardo.

 O Papa Julio II chamou-o a Roma e encomendou-lhe um mausoléu. Então, Michelangelo foi à cidade de Carrara, célebre pelo seu mármore e lá passou mais de seis meses selecionando o mármore que se converteriam em estátuas para o mausoléu do papa. 

Depois, o papa fê-lo aceitar uma outra encomenda. Havia uma capela no Vaticano que fora construída pelo Papa Sisto IV e por isso era chamada Sistina. As paredes dessa capela tinham sido decoradas pelos mais famosos pintores da geração anterior: Botticelli, Ghirlandaio e outros. Mas, a abóbada ainda estava virgem. 

O Papa sugeriu a Michelangelo que a pintasse. O artista fez tudo o que podia para esquivar-se dessa encomenda, dizendo não ser pintor, mas escultor. Mas aceitou. Michelangelo então começou a elaborar um modesto esquema de doze apóstolos em nichos e a contratar ajudantes de Florença para o auxiliarem na tarefa. 

Contudo, súbito, fechou-se na capela, não deixou ninguém se acercar dele e começou a trabalhar sozinho num plano que, na verdade, continuou “assombrando o mundo” desde o instante em que foi revelado. 

É muito difícil a um mortal comum imaginar como foi possível a um ser humano realizar o que Michelangelo realizou em quatro anos de trabalho solitário nos andaimes da capela papal.   

Juízo Final, Capela Sistina, detalhe, Michelangelo

O mero esforço físico de pintar esse gigantesco afresco no teto da capela, de preparar e esboçar  as cenas em  detalhe e de transferi-las para o teto, já era suficientemente fantástico. Michelangelo tinha de deitar-se de costas e pintar olhando para cima. De fato, habituou-se de tal modo a essa posição acanhada que até quando recebia uma carta durante esse período tinha de lê-la na mesma posição. A riqueza de novas invenções, a mestria infalível de execução em todos os detalhes e sobretudo a grandeza das visões que Michelangelo revelou aos pósteros proporcionaram à humanidade uma nova ideia de poder do gênio. 

Atualmente, uma das grandes surpresas quando se entra na Capela Sistina é descobrir que o teto é simples e harmonioso quando o olhamos meramente como uma peça de soberba decoração e como é límpido todo o arranjo. Nos anos de 1980, quando o teto foi limpo de muitas camadas de poeira e fuligem das velas, as cores foram reveladas fortes e luminosas, uma necessidade, pois o teto tinha que ficar visível numa capela com tão poucas e estreitas janelas. Atualmente, essas pinturas são admiradas na forte luz elétrica que se projeta para o teto.

Mal terminou o teto da Capela Sistina, Michelangelo voltou ansiosamente aos seus blocos de mármore, a fim de prosseguir com o túmulo do Papa Julio II. Assim, ele esculpiu “O escravo agonizante”. Após concluir todas as obras do mausoléu, Michelangelo alcançou fama estrondosa. Michelangelo fez também estátuas como “Moisés”, “Leda”, “Davi”  e “Pietá”.  (continua)

O escravo agonizante  

Davi, Michelangelo

Filme

O filme americano “Agonia e êxtase” (1965) conta a vida de Michelangelo com ênfase na fase em que ele pintou o teto da Capela Sistina. Emocionante. Lindo. Vi duas vezes em épocas diferentes. 

Fonte:

Gombrich, E.H., A História da Arte, Rio de Janeiro: LTC, 2009

Profa. Lúcia Rocha

Imagens:

http://www.wilanow-palac.art.pl/file/kon/kurs/sco_05/sco_05_3.jpg

http://imagens2.publico.pt/imagens.aspx/382052?tp=UH&db=IMAGENS

http://www.infoescola.com/wp-content/uploads/2012/03/santa-ceia.jpg

http://uploads6.wikiart.org/images/leonardo-da-vinci/mona-lisa.jpg

http://www.jovensconectados.org.br/wp-content/uploads/2013/03/Michelangelo_-_Cristo_Juiz-1024x542.jpg

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCfJ-4O9MPBW3aAqHlTMam0DlN3_y94PvzLS7Vie5olVsH-Ulgu9TczKtiVC9vzC1uy6-zdP8wcgvyHHhepHQ4oV9_l6cS_xN3jQqh8ugKAdKW0RQryM4Vz5VE6cUsQwOnDoFv-F0pfYE/s1600/gallery_michelangelo_michelangelo15.jpg

https://danisetudo.files.wordpress.com/2015/09/14120609.jpeg

https://cinemahistoriaeducacao.files.wordpress.com/2011/01/agonia-e-extase1.jpg

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários são o combustível de todo estes trabalhos... Obrigada