segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Ética - Os Vícios Morais - 3

Madona com o menino, Dürer

Para sua reflexão 

“Da conduta dos indivíduos depende o destino das organizações.”  (André Luiz)

A Ética é uma divisão da Filosofia que estuda a Moral, conjunto de regras para bem viver numa sociedade. A Ética analisa as virtudes e os vícios. “O Livro dos Espíritos”,  de Allan Kardec, afirma que o contrário de virtude é o vício moral ou imperfeição humana.

A mentira

Este tópico foi estudado no texto “Etica – Os vícios morais I”. Estou complementando esse estudo com artigos de filosofia indicados por minha filha Raquel Helena, bacharel e professora de Filosofia.

O filósofo Oswaldo Giacoia Júnior (2001) faz um estudo comparativo entre o filósofo prussiano Immanuell Kant (1724-1804) e o filósofo alemão Arthur Shopenhauer (1788-1860): 

“Kant disse: “Aquilo a que se pode ter direito é à veracidade nas declarações a cujo proferimento alguém se encontra subjetivamente obrigado, isto é, tem-se o direito de exigir de alguém que seja veraz nas declarações a que está obrigado.”

(...) ”Shopenhauer admite expressamente um direito à mentira, exposto numa argumentação cuja cáustica ironia visa diretamente Kant e se propõe a “esclarecer insólitas teorias sobre a mentira em estado de necessidade.” Para Shopenhauer, do princípio da veracidade nas declarações, ínsito (inerente) à ideia de contrato, não decorre uma obrigação incondicional de não mentir.”

(...) “Ao negar um suposto direto de mentir, ainda que por motivo filantrópico, Kant afirma o papel imperativo a ser cumprido pela moral. Porém, com isso, Kant atropela uma tradição racional do Direito Natural.” (Giacoia Junior, Oswaldo. Kant, Shopenhauer e o direito de mentir, in Em tempo, vol. 3, agosto de 2001, p.103-107).

Segundo Figueiredo (2005), em 1797, Benjamim Constant (1767-1830) escreveu um artigo (Das reações políticas, capítulo 8, Dos princípios), contestando o direito de mentir e o dever de dizer a verdade. Ele deu um exemplo: “Um assassino bate à sua porta com a intenção de matar seu amigo que está em sua casa. Você deve dizer a verdade quando o assassino perguntar sobre o paradeiro do seu amigo, ou deve mentir e dizer que o amigo não se encontra no local?”

 Figueiredo afirma que,  para Constant, junto do conceito de dever está o conceito de direito e onde não há direitos também não pode haver deveres, isto é, se o assassino tem a intenção de infringir a lei e matar seu amigo, tirando-lhe a liberdade, você não tem o dever de dizer a verdade porque o assassino não tem o direito a ela. 

De acordo com Figueiredo, Constant afirma que “ dizer a verdade é um dever, mas apenas em relação àquele que tem o direito à verdade. Porém, nenhum homem tem o direito à verdade que prejudica outro.”  

Conforme Figueiredo, para Kant um individuo não deve mentir em hipótese nenhuma, pois a mentira pode induzir o ouvinte a praticar uma ação que não corresponde à sua vontade, violando ao mesmo tempo o seu direito de saber a verdade. 

No entanto, para Shopenhauer,  citado por Figueiredo, nós temos o direito de mentir, como autodefesa, para nos livrarmos de assaltantes e violência de todo tipo, para defendermos nossa própria vida, nossa liberdade, nossos bens e nossa honra ou para fugir de uma pergunta indiscreta.  E também nos casos de medicina entre o médico e o paciente terminal. 

Fontes:

(Giacoia Junior,Oswaldo. Kant, Shopenhauer e o direito de mentir, in Em tempo, vol. 3, agosto de 2001, p.103-107).

Figueiredo, Nara Miranda de, Sobre um suposto direito de mentir:um paralelo entre Kant, Shipenhauer e Constan, e alguns conceitos shopenhauerianos, Revista Urutágua, 2001-2005, Universidade Estadual de Maringá, PR

http://www.urutagua.uem.br/007/07figueiredo.pdf

Nota 1: O filósofo Oswaldo Giacoia Junior é professor de Filosofia da Unicamp. Foi professor da Raquel Helena, bacharel e professora de Filosofia.

A falta de patriotismo 

O dicionário explica: 

“Patriotismo” , “civismo” e “brasilidade” são palavras sinônimas. “Patriotismo: amor à pátria, devoção ao seu solo e às suas tradições, à sua defesa e integridade.” “Patriota: pessoa que ama sua pátria e procura servi-la”. 

A falta de patriotismo é um vício moral muito difundido em nosso tempo. Infelizmente. O Brasil é um país  que está em constante desenvolvimento. Nascer brasileiro é uma oportunidade  de evolução espiritual conforme ensina a Doutrina Espírita. Mas, tem brasileiro que nasceu no Brasil e não valoriza nem respeita a pátria nem as coisas  brasileiras. Ele  não ama direito a  pátria porque não sabe o significado das palavras “pátria”, “patriota” , “patriotismo”.     

Provavelmente, todas as vezes que a escola  falou desse tema,  o educando não estava lá ou sua cabeça estava na Lua. E como ele perdeu a lição na escolaridade, certamente também não a recebeu na família, por isso segue pela vida imitando os errados, os brasileiros não assumidos, que têm vergonha de ser brasileiros, como se o Brasil fosse inferior às demais nações.      

Já se foi o tempo em que a família não esperava a escola educar para o patriotismo, pois ela mesma educava a infância e a adolescência na brasilidade. Isso foi há mais de meio século, no meu tempo. Em algum momento a tradição verde-amarela foi abandonada.

A falta de patriotismo tem muito da omissão do governo federal que não faz programas curtos de televisão para educar o povo no patriotismo, civismo, brasilidade, sequer para explicar que estas três palavras são sinônimas. Assim, o brasileiro só lembra que tem pátria quando assiste desfiles militares ou competições esportivas em que o Brasil participa. Mas, patriotismo é muito mais profundo que isso. O patriotismo faz parte da formação em todos os níveis das Forças Armadas (o Exército, a Marinha e a Aeronáutica): elas defendem a pátria, seja na paz ou na guerra.     

Uma forma muito importante de sentir o patriotismo é amar a língua materna, a língua pátria, desde a infância. Amar o português significa dominar ao menos o seu nível básico, oralmente ou por escrito.  

Devemos resgatar o patriotismo a partir da educação básica, pois somente uma geração bem educada no amor à pátria poderá ajudar a promover as mudanças necessárias para a evolução da nação. 

Fonte: 

http://www.ambientelegal.com.br/patriotismo-um-sentimento-em-extincao/

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“O genuíno amor à pátria, longe de ser demagogia, é serviço proveitoso e incessante.” André Luiz. (“Conduta Espírita”,  Espírito André Luiz, de Waldo Vieira, FEB) 

“A pátria é o ar e o pão, o templo e a escola, o lar e o seio de Mãe.” (“Conduta Espírita”, André Luiz, Waldo Vieira, FEB) 

Palavras de Santo Agostinho

“Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se, a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas: dê  balanço no seu dia moral para, a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros e eu lhe asseguro que a conta destes será mais avultada que a daquelas. Se puder dizer que foi bom o seu dia, poderá dormir em paz e aguardar sem receio o despertar na outra vida.” Santo Agostinho. (“O Livro dos Espíritos”, questão 919-a, Allan Kardec, FEB)   

Nota: Santo Agostinho foi um dos espíritos superiores que ditaram “O Livro dos Espíritos”. 

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“O lar e o templo são as escolas da fé. A educação da alma é a alma da educação.”  (André Luiz)

“Reconhece-se o verdadeira espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más.” (Allan Kardec, ”O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XVII, 4).

“Embora ninguém possa voltar e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.” (Chico Xavier)

Considerações finais

Sendo a Terra um mundo de expiações e provas, um mundo muito atrasado, sua vida social  na escola, na universidade, no trabalho e na comunidade proporciona ao homem um convívio muito misturado de tipos de educação. Sendo a Terra atrasada, a maioria das pessoas tem vícios morais. A principal educação moral vem do berço de muitas gerações com a transmissão dos valores humanos. Os valores são principalmente as virtudes que fazem parte da moral. 

A moral diz respeito principalmente ao indivíduo. Existem o certo e o errado conforme as leis impõem e para que haja justiça social.  O “mais ou menos” certo  é o errado, pois não é o certo. Da somatória de indivíduos nos quais predominam os erros,  temos comunidades inteiras nas quais predominam os erros, uma nação inteira na qual predominam os erros. A Terra é um mundo onde predomina o erro, por isso ela é um mundo de expiações e provas, um mundo em desenvolvimento.       
A lei dos homens não penaliza os vícios morais, mas a Lei Divina, por seus emissários celestiais, a tudo vê e julga, providenciando o devido corretivo.

Quando um indivíduo comete um erro,  mas ignora que está errado, ele será julgado menos culpado, terá corretivo mais brando da Divina Providência. Mas, quando um indivíduo tem a oportunidade do conhecimento e mesmo assim, por seu livre arbítrio, permanece no erro, sua culpa será maior, pois, tendo sido avisado, não poderá alegar ignorância.

A Justiça Divina não é boa nem má, é justa, assim como a justiça humana, que a reflete. Quando uma pessoa faz algo de bom, ela adquire merecimento, a justiça Divina tudo vê;  em determinado momento do futuro a pessoa será recompensada.

Deus não exige de nós os detalhes, os primores da educação no início da caminhada evolutiva. Mas, todos nós seremos obrigatoriamente  arrastados pelo vendaval do tempo na esteira da evolução.   

Pois, na caminhada evolutiva, Deus criou o espírito simples e ignorante, cabendo-lhe evoluir pelo próprio esforço a partir das lições e bons exemplos, seja no mundo material em que habita ou no Espaço, nos intervalos das reencarnações. Pois, o objetivo do espírito é a evolução, o que significa um dia tornar-se novamente puro e pleno de conhecimento diante de Deus. 

A evolução só se alcança através da educação ou autoeducação.    

Cada nova reencarnação é uma nova oportunidade de recomeço do aprendizado das virtudes e o abandono dos vícios, mais um passo na caminhada evolutiva. Para isso, contamos inicialmente com a ajuda da família, principalmente da mãe, sendo a infância e a adolescência uma fase de esquecimento do passado espiritual de erros, o que facilita o recomeço no caminho do bem. 

Conclusão

Chico Xavier dizia que um centímetro de remorso pesa mais no coração que uma  tonelada de sacrifícios.  Quem tem remorso não tem paz. Por isso, o maior objetivo do espírito, seja encarnado ou desencarnado, deve ser a conquista da paz. 

Mas, a paz só se alcança com a consciência tranquila  pelo bom cumprimento dos deveres materiais e  morais, o que se consegue com o desenvolvimento das virtudes e o abandono dos vícios morais. Só quem se esforça pela aquisição de virtudes tem paz na consciência.

A maior virtude é a caridade ou amor ao próximo como a si mesmo, como disse Jesus: nós devemos fazer aos outros aquilo que gostaríamos que os outros fizessem por nós. Jesus, o Nosso Senhor, foi o Exemplo de virtude. Ele disse: “A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou.” (João,14: 27-31).

FIM

Outras fontes:

“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, FEB

“O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec, FEB 

“Nosso Lar”  e  “Sinal Verde” (sobre boa conduta) ambos do Espírito André Luiz,  Francisco Cândido Xavier, FEB.

Moderno dicionário da língua portuguesa, vol. 2, Michaelis 2000, São Paulo, Melhoramentos.

Imagem: “Madona com o menino”, do alemão Albrect Dürer (1471-1528), grande pintor retratista, o mais famoso do Alto Renacimento nórdico. O quadro encontra-se no Kunsthistorisches Museum, em Viena. 

http://biografiasgls.blogspot.com.br/2015/05/albrecht-durer.html

Profa. Lucia Rocha 

Imagem: http://images.zeno.org/Kunstwerke/I/big/10v0199a.jpg

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