segunda-feira, 27 de julho de 2015

Os Monges Copistas


Não existia computador, nem copiadora, nem sequer a velha máquina de escrever. Ainda não havia a imprensa. Não obstante, os medievais foram capazes de transmitir à Civilização Ocidental todo o imenso legado cultural e filosófico das civilizações grega e romana, obras literárias e manuscritos de um mundo que deixara de existir, demolido pelas invasões bárbaras do final da Antiguidade. Como conseguiram tal proeza sem as técnicas de impressão inventadas e desenvolvidas séculos mais tarde?  
A resposta a essa pergunta, podemos encontrá-la nos mosteiros e abadias da Igreja Católica, única instituição resistente aos ataques das hordas bárbaras.  Os mosteiros e abadias exerceram um grande papel na formação cultural, moral e religiosa da sociedade. Além disso,  recolheram, entre outros, os escritos de autores gregos e latinos, como Aristóteles e Heródoto, Cícero e Virgílio, Santo Agostinho e Boécio, bem como os manuscritos do Novo Testamento, multiplicando todos esses textos mediante um trabalho paciente, cuidadoso e organizado. 

Foi esse o trabalho dedicado de inúmeros e despretensiosos monges copistas, cujos nomes a História não nos legou. Como surgiram? E qual a importância do seu trabalho para o desenvolvimento da Civilização Ocidental?

Um mundo convulsionado

A transição da Antiguidade para a Idade Média deu-se com a queda do Império Romano do Ocidente (476 d.C.) e a intensificação das invasões bárbaras na Europa, originando o caos e a destruição do que restava da civilização.

Com a adesão das populações ao Cristianismo, aos poucos se foi observando um progresso de toda a sociedade, não só no terreno espiritual, mas em todos os campos da atuação humana, dando origem ao florescimento da civilização cristã. 

A paz, contudo, estava longe de reinar na Europa, pois hordas de bárbaros continuavam a assolar tudo o que viam pela frente. Dessa maciça devastação não foram poupadas sequer as bibliotecas com suas coleções de textos.

Nessa dramática encruzilhada da História, os claustros dos mosteiros serviram de refúgio ideal para os escritos e os documentos de grande valor histórico e cultural. Destacaram-se nessa tarefa o mosteiro de Vivarium, no sul da Itália (século V), os monges beneditinos (da ordem fundada por São Bento de Núrsia, Itália,no século V) e os monges irlandeses (da ordem fundada por São Columbano,no século V). Em Vivarium surgiu o primeiro scriptorium (quarto para escrever os manuscritos).

Os monges copistas

Os monges deviam dedicar certo tempo à leitura: “A ociosidade é inimiga da alma; por isso em certas horas devem ocupar-se os irmãos com o trabalho manual, e em outras horas com a leitura espiritual”. Mas como se aplicar à leitura sem livros para ler? Foi assim que os princípios de São Bento implicitamente favoreceram a tradição manuscrita. 

Copiar uma obra era um trabalho sem dúvida desgastante e demorado. Eram necessários dois ou três meses para copiar um manuscrito de tamanho médio. Eram muitas as agruras pelas quais passavam os copistas, fosse pelo desconforto — às vezes escreviam sobre os joelhos — fosse pela  ausência de de luz adequada e de aquecimento no inverno. 

A essas dificuldades somava-se o alto custo dos pergaminhos. Por essa razão, nos séculos VII e VIII, certos textos de menor interesse foram apagados ou raspados para ceder lugar a outros com maior demanda. O copista reescrevia em cima do texto excluído. Este tipo de manuscrito veio a ser denominado de palimpsesto (do grego “riscar de novo”). Hoje em dia, sofisticadas técnicas de recuperação permitem descobrir as marcas dos palimpsestos, revelando-nos, por vezes, textos inéditos. Desta forma, aqueles monges, sem saber, estavam preservando num mesmo pergaminho dois ou até mais textos simultaneamente…

No século XI houve um grande avanço na arte de copiar. Foi assim que, após a invenção da imprensa por Guttemberg, no século XV (1445), os monges de Vivarium  e de São Bento deram uma cópia de Cícero, Virgílio e outros autores clássicos para as primeiras edições das prensas da Alemanha e Itália.

Mas ainda vieram os monges irlandeses, que deram um particular impulso à transmissão cultural escrita. Deve-se à Abadia de Bobbio as cópias de alguns dos mais antigos manuscritos latinos ainda hoje conservados. Tais relíquias nos demonstram não somente o valor literário, mas também o valor artístico dos códices produzidos pelos monges irlandeses e seus discípulos. Nas ornamentações, destacam-se as detalhadas e floreadas iniciais e um estilo de caligrafia típico que influenciou diversos mosteiros. As ilustrações eram verdadeiros tesouros: podiam ser coloridas com ouro e lápis-lazúli, entre vários outros recursos. Os monges irlandeses foram os pioneiros nas ornamentações dos pergaminhos.

A tradição musical também foi objeto de suas atividades. Saltérios, antifonários, sequenciários, graduais e todo tipo de códices litúrgicos — breviários, lecionários, martirológios, missais, etc. — atestam a grande formação cultural dos monges. 

Gradualmente, sobretudo com a criação das universidades no século XII, a tradição manuscrita deixou o scriptorium dos mosteiros e abadias e se estendeu a todas as classes sociais: clero secular, freiras, notários, escribas profissionais, professores, estudantes, etc. Mas, nesse tempo, a transmissão dos textos para a posteridade já estava salvaguardada. A Europa restaurada havia ultrapassado os duros momentos da transição do mundo clássico para o medieval.

Portanto, os monges além de nos transmitirem os textos, o que de si já é algo extraordinário, deram-nos o  exemplo de sabedoria, perseverança e ascese (aspiração às virtudes), ao legar para os séculos seguintes a tradição cultural clássica e a tradição cristã. Não se pode calcular com precisão as consequências desse trabalho dedicado para o desenvolvimento da civilização ocidental.  E nem se pode imaginar o que seria da cultura  ocidental, hoje, se esses monges tivessem sido exterminados pelas hordas bárbaras ou simplesmente tivessem esmorecido naquele momento crucial. O que sabemos é que o destino da Civilização Ocidental passou pelas suas mãos. 

Filme
Sean Conery

“O Nome da Rosa” é um livro que virou filme. O romance de mesmo nome, escrito pelo italiano Umberto Eco, foi lançado em 1980. Título original do filme, uma produção alemã: Der name der rose. Ano de lançamento na Alemanha: 1986; direção de Jean-Jacques Annaud com Sean Conery no papel principal.  

Como contexto histórico o filme apresenta a Baixa Idade Média no século XIV,  que é marcada pela desintegração do feudalismo e formação do capitalismo na Europa Ocidental.

O filme é uma narrativa da vida religiosa   de um mosteiro italiano que mostra onde os monges copistas trabalhavam e como os pergaminhos e livros eram guardados numa imensa biblioteca que ficava no final de um labirinto.  Poucos monges tinham acesso aos principais livros devido ao seu conteúdo profano.

O frade franciscano Baskerville (Sean Conery) e um noviço (Cristian Slater) chegam a um mosteiro para a investigação das sete mortes que tinham ocorrido na instituição. Esses mortos apresentavam as línguas e os dedos roxos, o que apontava para a evidência de que todos teriam morrido  pela mesma causa, ou seja, pela leitura de um livro envenenado que fora escrito por Aristóteles e que exaltava o riso. A igreja defendia que a comédia proporcionava ao homem a falta de temor a Deus, o que enfraquecia o poder da igreja sobre os cristãos. A trama se desenvolve sobre um suspense  policial. 

Uma história de detetive. O final é surpreendente. Ótimo filme, vi duas vezes em épocas diferentes. 

Um monge copista

O frade franciscano (Sean Conery) e o noviço (Cristian Slater) 

Fontes:

http://academico.arautos.org/2011/08/monges-copistas-a-civilizacao-ocidental-passou-por-suas-maos/

http://equipe2psi.blogspot.com.br/2010/06/resenha-critica-do-filme-o-nome-da-rosa.html

Profa. Lúcia Rocha

Imagens:

https://blogger.googleusercontent.com/img/proxy/AVvXsEjaUsaOpp9umvqHDPVfIDFLno9lqaJ3jTQfXj-HgdwtJjalCkUuVVmXi2DF8mO707V_4KtiQOWfvaJAK9lQJ5cE-Bg_okS61wwtKHnH8VN35i9ASEQsQG5-PL3x-08Qd-d7DCrM7eU1tjTbQfktuXo6xiu_E9Rvq86n9ozlAVrsn42kk8309CxP=w506-h373

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