segunda-feira, 27 de julho de 2015

Filosofia - Os Valores do "Ser" e "Ter" - I

Descanso na fuga para o Egito, Caravaggio

 “629. Que definição se pode dar da moral?

“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos porque então cumpre a lei de Deus.” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec)

O tema Valores do “ser” e do “ter” é um desdobramento do tema “valores humanos”. Assim, complementando nosso estudo  anterior, “Filosofia – Valores humanos”, podemos dizer que há valores internos ou espirituais e valores externos ou materiais.

Como valores internos ou espirituais, temos  em primeiro lugar as virtudes. As principais virtudes são a fé, a esperança e a caridade como disse Jesus. A maior das virtudes é a caridade (ou amor ao próximo), como disse o apóstolo Paulo. São também virtudes  a humildade, a paciência, o perdão, a perseverança, a tolerância e outras. A disciplina é a virtude mais difícil de adquirir; em segundo lugar, a paciência. 

São também valores internos ou espirituais contemporâneos “o amor à própria vida”, “o amor à família”, “a paz”, “o amor ao trabalho, “a prosperidade”, “o amor aos estudos”, “a dignidade, “a honestidade”, ”a amizade”, “a felicidade”, “o amor à pátria e à língua materna”, “o sentido do belo”,  “o lazer”, etc. Os valores internos são substantivos abstratos (nós não podemos tocá-los), eles fazem parte do “ser”. 

Como valores externos ou materiais, temos o nosso corpo físico,  o dinheiro e tudo o que ele pode comprar como alimentos, roupas, casa e aparelhos, carro, computador, equipamentos, livros, jogos, brinquedos, etc. Os valores externos são substantivos concretos (nós podemos tocá-los), eles  fazem parte do “ter”. 

No nosso estudo anterior sobre valores humanos, o valor externo “dinheiro” (não apenas o valor econômico da moeda) está incluso no valor “prosperidade”, um valor interno.           

Para viver na nossa sociedade capitalista (a sociedade que tem como objetivo principal o acúmulo de capital/dinheiro), precisamos primeiramente do “ter”, ter certos bens materiais que satisfaçam a nossa necessidade humana de conforto e boa qualidade de vida. Precisamos ter uma casa, própria ou alugada, com infraestrutura ao menos básica para morar e tudo o mais do que precisamos para manter nosso corpo vivo e com saúde, como alimentos, roupas, etc. O “ter” é fundamental para viver e para isso precisamos do capital, ou seja, do dinheiro.  

Mas, cuidado! Ao satisfazermos as nossas necessidades do “ter”, é preciso não cair no consumismo desenfreado, que é um vício e também uma compulsão, um distúrbio psicológico que precisa de tratamento. 

O contrário do consumista é o indivíduo minimalista que vive para “elevar-se”, evoluir espiritualmente em vida. Este não consome o suficiente para viver porque renuncia a quase todo o conforto material e ainda consome alimentos tão leves que se torna subnutrido, gravemente doente, morre antes da hora. Isso é uma violência porque a evolução espiritual só ocorre aos poucos e não com o sacrifício do corpo. Nos livros do Espírito André Luiz da série Nosso Lar, esses homens minimalistas são chamados suicidas inconscientes porque eles não têm consciência de que estão se matando aos poucos. 

Por sua vez, o workaholic é a pessoa viciada em trabalho,  que trabalha excessivamente para alimentar seu consumismo, sem considerar a necessidade humana do repouso para o refazimento das energias físicas e mentais. O workaholic desperdiça sua vida para ter mais dinheiro e depois gasta seu dinheiro para ter de volta a saúde e a vida. Mas, muitas vezes o tratamento do grande desgaste físico chega tarde demais, então ocorre a morte prematura, o suicídio inconsciente.

São também suicidas inconscientes as mulheres que fazem severos regimes para emagrecer, sem controle médico, unicamente para seguir a moda de certo padrão tirânico de beleza magra, como as modelos, castigando e enfraquecendo o corpo, ficando gravemente doentes, muitas vezes morrendo antes da hora. A lipoaspiração sem controle médico e o aborto provocado também são causas de suicídios inconscientes. 

André Luiz conta também que são suicidas inconscientes os que praticam esportes radicais sem se preocupar com a vida, como os que escalam montanhas geladas e os que se atiram de penhascos, entre outros. Ultimamente os noticiários televisivos têm anunciado a morte de alguns desses jovens infelizes. Todos esses suicidas inconscientes  serão culpados pela destruição do corpo físico, pela morte prematura do corpo. Só Deus pode tirar a vida, por isso o suicídio, mesmo inconsciente, é o maior crime que o homem pode cometer diante da Divina Providência, pois se prende à desobediência da vontade superior, única que pode determinar o tempo de vida na Terra. 

André Luiz conta ainda que os espíritos dos suicidas conscientes e inconscientes, quando desencarnam, ficam errantes no plano espiritual inferior – o Umbral (que significa “porta de entrada”) – sofrendo horrores no meio de espíritos ignorantes, na imundície, fome e sede, mau cheiro, maus tratos físicos, violência,  escuridão, barulhos, gritos, choro,  cenas horripilantes como num terrível pesadelo, até completarem o período que teriam de viver na Terra. É um verdadeiro inferno sem um minuto sequer de paz. Só então eles são resgatados pelas equipes socorristas que os levam para os sanatórios onde ficarão certo tempo “consertando” as violências acarretadas no períspirito, principalmente na mente.

No Umbral também permanecem por 5, 8, 10 anos,  os espíritos que na Terra contraíram todo tipo de vício, como as drogas e o sexo desvairado, os quais também causam a degradação moral e a destruição progressiva do corpo e a morte prematura, sendo  portanto  suicídios inconscientes.           

Depois do Umbral esses espíritos suicidas seguirão para as escolas correcionais para aprenderem o Evangelho e a valorizar e respeitar o corpo físico. Ficam anos nesse aprendizado, só depois terão a oportunidade de nova reencarnação em que muitas vezes nascerão mutilados como parte da dívida que contraíram perante Deus, desrespeitando-o com o suicídio. Então, finalmente aprenderão a respeitar e valorizar o corpo que o espírito recebe por empréstimo para viver neste mundo. André Luiz diz que o corpo físico é um templo sagrado para o espírito  manifestar-se no mundo físico. Respeitar o corpo físico é também um valor do “ser”, pois implica um dever, o compromisso de zelar pelo corpo, vestimenta provisória que o espírito recebe por empréstimo. 

Depois de satisfeita as nossas necessidades humanas do “ter”, então vamos nos preocupar com o “ser” , que é o lado espiritual da vida ainda neste mundo terreno. O “ser” implica mudança, transformação espiritual pela prática dos valores morais ou virtudes e demais valores internos ou espirituais já analisados. O “ser” também implica deveres que cabe ao homem cumprir neste plano físico. O primeiro dever do “ser”, dever moral do espírito encarnado perante a Providência Divina,  é cuidar bem do corpo físico. Ter um corpo físico bem cuidado é, portanto, o nosso maior valor do “ter” e ao mesmo tempo o nosso maior dever do “ser”. Todo dever (obrigação) implica um compromisso que devemos honrar. 

Com o passar do tempo,  nós poderemos adquirir ou não outros valores espirituais e materiais ou substituir alguns conforme nossas novas experiências de vida. Como exemplos de valores internos imorredouros, cito o amor à própria vida, o amor à família, a dignidade, a amizade, o amor à pátria e outros que envolvem nosso melhor sentimento. 

Numa determinada sociedade, todos os adultos são educadores naturais não só das novas gerações, mas também de outros adultos,  ainda que ninguém tenha consciência disso. Um adulto educa, ensina valores apenas pelo exemplo silencioso aos demais (crianças, adolescentes e outros adultos), que aprendem por imitação espontânea. Pelo exemplo e pela imitação, algumas virtudes e os demais valores dos antigos greco-romanos atravessaram a história, somaram-se aos ensinamentos de Jesus e aos valores portugueses, chegando à nossa pátria no século XVI pelas mãos dos padres jesuítas portugueses, nossos primeiros professores.

O bom exemplo é a melhor forma de educar para os valores humanos do “ser” e do “ter”, no silêncio que gera harmonia ao redor. Agindo com fé esclarecida e esperança, cada um poderá  contribuir para a transformação ainda que lenta da sociedade, de modo que futuramente ela se torne uma civilização mais centrada no “ser” do que no “ter”. 

(Texto baseado no estudo das obras da série que começa com Nosso Lar, pelo Espirito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Editora da Federação Espírita Brasileira, século XX.)

Nota : O Espírito Alex Zarthú utiliza a expressão “valor interno” no Prefácio da obra “Serenidade”, psicografia de Robson Pinheiro, 2013.

Imagem: Descanso na fuga para o Egito (O menino Jesus, Maria, José e o anjo), 1597. Óleo sobre tela do mestre italiano Michelangelo da Merisi Caravaggio, período Barroco da pintura. A obra está exposta na galeria Doria Pamphili, Roma.

Profa. Lucia Rocha

Imagem: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/7/72/Caravaggio_-_Il_riposo_durante_la_fuga_in_Egitto.jpg

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