segunda-feira, 20 de julho de 2015

Mulheres Inteligentes, Relações Saudáveis - 5

Art Nouveau, Mücha, 1899

(Psicologia aplicada para leigos. Conhecimento de nível universitário.)

Os erros capitais de uma relação doente - III

A ditadura da crítica excessiva e do medo da perda Se você quiser viver com pessoas tranquilas, relaxantes, que preenchem todas as suas expectativas e que jamais lhe darão dores de cabeça, é melhor conviver com máquinas e não com seres humanos.

É impossível não termos algumas áreas de conflitos. Somos mundos completamente diferentes vivendo num mesmo espaço: na sala de casa, de aula e das empresas. Uma das coisas que mais nos diferenciam e ao mesmo tempo nos aproximam é a emoção. Ela nos diferencia porque a cada momento estamos num estado emocional e nos aproxima porque frequentemente nossa emoção experimenta os mais diversos níveis de ansiedade.

Há uma ansiedade aceitável, normal e até fundamental. Aquela que nos faz ter taquicardia diante de um olhar, sentir calafrios com um beijo, frio na espinha ao receber uma excelente notícia. Essa ansiedade normal também nos impulsiona a desejar, planejar e ter ambições saudáveis, superar barreiras, vencer limites, aceitar desafios. Sem essa ansiedade, os cientistas não seriam criativos, as mulheres não lutariam pelo que amam, os homens não seriam sonhadores. Enfim, não seríamos o Homo sapiens, uma espécie pensante e amante das aventuras. Portanto, não reclame da ansiedade, mas dos altos níveis dela.

Quando a ansiedade se avoluma, adoecemos nossas mentes, relações e atividades profissionais. A ansiedade doentia tem múltiplas manifestações. Em alguns casos ela se traduz pela timidez. Fala-se pouco, mas pensa-se muito. Outras vezes se traduz pela excessiva extroversão, fala-se  muito e pensa-se pouco. E ainda outras vezes traduz-se pelo excesso de atividades, preocupações, obsessões. 

A crítica excessiva e o medo da perda são duas manifestações da ansiedade, comuns e destrutivas.

A crítica excessiva leva à ditadura da cobrança, que asfixia a liberdade e a saúde psíquica. A ditadura da cobrança, decorrente do excesso de crítica é mais grave do que a ditadura do controle advindo do ciúme. No ciúme, controlam-se alguns comportamentos que impõem riscos à perda; na cobrança controla-se grande parte dos comportamentos. 

Se uma pessoa ciumenta também tornar-se excessivamente crítica será quase insuportável viver com ela. Momentos felizes se alternam com angustiantes, tempos relaxantes se alternam com tensos.

Uma pessoa excessivamente crítica perturba a todos no ambiente, dos filhos ao parceiro, dos colegas aos amigos. Todos têm que se enquadrar no seu esquema. Ela não sabe elogiar, ninguém é bom o suficiente, suas verdades são absolutas, pau é pedra, mesmo que todos digam que é madeira.

Quem critica ou cobra excessivamente está apto para trabalhar numa “financeira”, mas não para construir  uma relação saudável. Uma pessoa continuamente crítica é paradoxal; ao mesmo tempo  em que é especialista em apontar os erros dos outros é péssima em enxergar os próprios erros. É ríspida, não admite erros, coloca seus íntimos no presídio dos seus preconceitos. 

Quem tem a necessidade neurótica de fazer críticas possui uma mente autoritária. Eleva sua voz e fala mal dos outros com incrível facilidade. Há mulheres que fazem numerosas críticas diárias ao seu parceiro. Criticam seu jeito de comer, andar, vestir, falar. Querem produzir um boneco eletrônico e não conviver com um ser humano.

Ninguém muda ninguém

A mulher inteligente deve saber que ninguém muda ninguém. Não temos o poder de construir plataformas nos solos da memória do outro, seja no centro da memória (MUC), seja na periferia ( ME). E mesmo se tivéssemos esse poder, não teríamos o direito, pois se mudássemos as matrizes da memória, mudaríamos os alicerces da personalidade, manipularíamos os seres humanos.

Mas, podemos contribuir com quem amamos. Em capítulos posteriores estudaremos as leis fundamentais das relações saudáveis. No entanto qualquer contribuição passa por despertar o Eu para que ele mesmo seja o protagonista da própria história. Por favor, não use pressões, chantagens, críticas excessivas para com as pessoas difíceis. Essas técnicas piorarão quem você deseja mudar, as arremessarão para dentro das janelas killer. Lembre-se de que o volume de tensão dessas janelas é tão grande que bloqueia milhares de outras janelas, impedindo o Eu de pensar, fazendo-o quase que “imutável”.

Por que essas técnicas ineficientes sempre foram usadas ao longo da história? Por causa da lei do menor esforço.

Não é necessário nenhum esforço intelectual nem  emocional para metralhar os outros com críticas e apontar seus erros. Mas, compreender, envolver, estimular a pensar e conquistar uma pessoa difícil exige a lei do maior esforço ampliada. Que tipo de lei você prefere usar?

Se uma pessoa for eficiente em estimular o Eu de outra a sair da condição de vítima para ser protagonista da sua psique, abre-se um caminho excelente para construir bairros na sua memória. A generosidade, o altruísmo e a capacidade de surpreender são fundamentais para estimular o outro.

A pior atitude de uma mulher na relação com seu parceiro é se posicionar como uma “psicóloga” com um condão mágico ansiando mudá-lo. Homens difíceis não precisam de esposas “psicólogas”, mas de mulheres surpreendentes. Algumas mulheres chegam ao absurdo de querer mudá-los como cirurgião. “Cortam-nos” e os expõem com suas palavras, causam a terceira guerra mundial. Jamais esqueça que excelentes romances têm fins trágicos não por falta de amor, mas por causa das labaredas do confronto. Não seja terapeuta de quem ama, seja uma mulher romântica e inteligente. 

Há mulheres que têm a mania de limpeza. Elas veem sujeiras invisíveis aos olhos. Varrem os espaços, os sapatos do marido e às vezes, até o próprio marido da sala de casa. Manias de limpeza, de lavar as mãos, de fechar as portas, de olhar se tem um ladrão debaixo da cama causam transtornos, porém, a mania de repetir obsessivamente as mesmas críticas causa mais. 

Uma mulher repetitiva estressa muitíssimo seu homem e seus filhos. E o que é pior, perde seu valor, pois esconde sua beleza e inteligência atrás das mesmas palavras.

Mulheres inteligentes encantam quem está ao seu redor. São rápidas em apoiar e lentas para excluir, ágeis para elogiar e lentas para condenar. São artesãs que constroem sua imagem de maneira excelente no centro da memória de quem amam. Se forem eficientes nessa empreitada, poderão dizer palavras brandas que terão impacto. Se forem ineficientes, poderão gritar que não serão ouvidas.

Quem usa as palavras “sempre”, “toda vez”, “jamais”, “não”, “nunca” para corrigir ou apontar os erros de alguém está apto para ser um falso juiz e não um educador. Por mais erros que uma pessoa cometa, em alguns momentos ela acerta, expressa afetividade, generosidade, coerência, lucidez. Estes momentos devem ser celebrados para plantarmos janelas light que estimulem o desenvolvimento da sua afetividade e  racionalidade. 

Por não conhecer a Teoria das Janelas da Memória falhamos drasticamente em nossas correções. Primeiro, queremos conquistar o território da razão para depois o da emoção, ou seja, primeiro criticamos para depois sermos afetivos. Tal técnica é débil e ineficiente. Deveria ser o contrário. Primeiro, precisamos conquistar o território da emoção, valorizar quem vamos corrigir, exaltá-lo, para desse modo tirá-lo das fronteiras de uma janela killer. Depois, o corrigimos com generosidade e sem radicalismos ou advérbios apelativos. 

Se usarmos críticas radicais, devemos imediatamente pedir desculpas: ”Desculpe-me, exagerei nas palavras. Você não erra sempre.” “Perdoe-me por dizer que você não tem jeito. Você errou agora, mas tem a capacidade para se superar no futuro.” Assim, nossos erros ganharão elegância, tornar-se-ão educativos.

Pais podem pedir desculpas aos seus filhos? Professores podem reconhecer seus erros para seus alunos? Mulheres podem achar que exageraram com seus parceiros? Podem e devem. Os erros dos outros jamais deveriam justificar os nossos. Além disso, pedir desculpa quando exageramos pode produzir um choque pedagógico positivo que leva quem amamos a entender que a maturidade psíquica não está em não falhar, mas em usar os erros para crescer.

É possível viver com pessoas difíceis e ser feliz, desde que não tenhamos a obsessão de querer mudá-las. Não  tenha a necessidade neurótica de mudar as pessoas. Não exija o que os outros não podem dar ou não querem dar.

Uma mulher inteligente também sabe que não há amor sem acidentes nem relações sem tempestades. São capazes de escrever os melhores capítulos dos seus romances nos momentos mais difíceis da sua existência.

Medo da perda

Um dos erros capitais de uma relação doente é o medo excessivo da perda. Uma mulher inteligente se entrega sem medo, mas não destrói sua identidade em função do outro. Doa-se muito, mas não respira o ar dele. É afetiva e generosa, mas jamais deixa de ter órbita própria.

Quem tem medo da perda já perdeu. Perdeu sua autoconfiança, autoestima, a dimensão da sua imagem. Perdeu também a habilidade do seu Eu em ser gestor da sua mente.

Se você fez tudo por um homem, cuidou, amou, protegeu, investiu em seus projetos, e por fim ele partiu, não deve se autodestruir, diminuir-se e achar-se uma tola.

Deve sim gritar em sua mente que quem perdeu foi ele e não você. Deve estar consciente de que ele perdeu uma pessoa fascinante, única, exclusiva, enfim perdeu você. Se você não tiver essa postura, certamente se deprimirá.

A ditadura do medo da perda esmaga a autoestima de uma mulher ou de um homem. Quem tem medo da perda apequena seu mundo social. Os amigos diminuem, os projetos se contraem, as relações sociais ficam escassas, a alegria evapora-se. Não aceitar a perda é a pior maneira para perder. A dor da perda leva alguns ao suicídio ou ao homicídio, se não físico pelo menos emocional. É incrível que, apesar de vivermos em sociedades livres, há muitos escravos no território da emoção. Têm baixo nível de resiliência, não sabem sofrer a perda.

 Uma mulher inteligente nunca pressiona seu parceiro para ficar. Tem dignidade na separação. Pode sofrer, mas não faz chantagens. O seu parceiro pode abandoná-la, mas ela jamais se abandona. Não implora para ele ficar. Ela é capaz de dizer para si constantemente: “Os melhores dias estão por vir!”. Quando elas têm uma postura madura e digna, não poucas vezes seus homens quebram a cara e voltam. Descobriram que perderam uma pérola. São eles, agora, que choram para voltar. 

Casais se separam, pais jamais, mas na prática alguns pais acabam se separando dos filhos. Eis um erro gravíssimo. Casais inteligentes quando se separam não se divorciam do respeito de um com o outro, muito menos do cuidado e do afeto com seus filhos.

Casais inteligentes encorajam os sonhos do seu ex-parceiro e criam condições para o maior de todos os sonhos educacionais: que cada um tenha sucesso em educar os filhos na parte que lhe cabe. Esses casais honram a história que viveram juntos.  

E se é possível recomeçar, jamais deveriam cometer os erros capitais das relações doentes que tiveram. Não deveriam exercer a ditadura do ciúme, do controle, da crítica excessiva, da necessidade neurótica de mudar o outro.

Não basta estarem juntos, nem dar beijos hollywoodianos e pensar “Felizes para sempre.” Débil ilusão. Os monstros alojados na cidade da memória poderão voltar a respirar e assombrar o casal. Deveriam beber da fonte que nutre as relações saudáveis, como o poder do elogio, a arte de surpreender, de dialogar, de autodialogar, de proteger a emoção.

Ninguém é digno de um belo romance se não usar suas lágrimas para irrigá-lo. Ninguém é digno de escrever uma bela história de amor, se não aprender a reconhecer os próprios erros e não usá-los para escrevê-la.

Que você possa escrever uma bela história de amor. E se escrever, não tenha medo de falhar. E, se falhar, não tenha medo de chorar. E, se chorar, não tenha medo de suas lágrimas. Repense sua vida, mas não desista. Não cobre demais de si nem do outro. Dê sempre uma nova chance para si mesma...

Para homens inteligentes

Homens inteligentes usam a lei do esforço maior para resolver seus problemas. Têm consciência de que os fortes usam a agressividade; os frágeis, as ideias; os sábios abraçam, os estultos julgam; os fortes acolhem, os inseguros excluem.

Homens inteligentes pensam antes de reagir, superam sua impulsividade, não reagem pelo fenômeno bateu-levou. Não ferem a mulher que escolheram para dividir sua história, ao contrário, a protege. Não são radicais, mas flexíveis, não levantam a voz para quem ama, mas os braços para acolher. (continua)

Fonte:
Mulheres inteligentes, relações saudáveis, Augusto Cury, 2011 (Psicologia aplicada para leigos. Extrato de um capítulo nas palavras do autor.)

Nota: Alphonse Mücha ( pronuncia-se “Alfonse Mirrá”) (1860-1939), artista tcheco da Art Nouveau  (pronuncia-se “ar nuvô”, “Arte Nova”, francesa, decorativa,  inspirada em figuras naturais, plantas, flores e curvas)

Profa. Lúcia Rocha

Imagem: http://cdn3.iofferphoto.com/img/item/891/364/21/Painting.jpg

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