quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

A Norma Culta da Língua Portuguesa

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A gramática normativa da língua portuguesa estabelece a norma culta, ou seja, o padrão linguístico socialmente considerado modelo, sendo por isso adotado em todos os níveis da escolaridade e para a redação de documentos oficiais. 

O português do Brasil é um pouco diferente do português de Portugal, que nos legou a língua. Mas, não é correto chamar a nossa língua portuguesa de “português brasileiro” para diferençá-lo do português de Portugal. Na Constituição Federal, lemos:

“Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil.”

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O bom escritor brasileiro escreve as frases na ordem direta, pois essa é a forma automática do nosso pensamento como falantes nativos da língua portuguesa que somos. A fala e a escrita são o resultado do pensamento automático. Assim, dizemos, em bom português, oralmente ou por escrito: “Eu comprei sapatos no shopping.” Esta frase está na ordem direta. Nós não dizemos automaticamente: “Os sapatos foram comprados por mim no shopping” , que está na ordem inversa, porque não pensamos na ordem inversa como falantes do português. 

Quem escreve um português na ordem inversa está sofrendo a contaminação do inglês. Por mais que o brasileiro domine o inglês, é preciso que ele domine primeiramente a sua língua materna para evitar essa contaminação.  

A contaminação do inglês no texto escrito em português demonstra que o subconsciente da pessoa não tem tido a realimentação suficiente de redação própria em bom português, por isso o automatismo do seu pensamento para o texto escrito está fixado na ordem inversa.     

É preciso que a pessoa escreva frequentemente pequenos textos em português simples, mas correto – ao menos e-mails -  para que o seu pensamento volte a emitir automaticamente as frases na ordem direta do português para assim serem escritas automaticamente. Leitura e conversa não bastam para realimentar a redação própria em português ou qualquer outra língua.   

Duas ou mais línguas bem fixadas, aprendidas, dominadas, separam-se no subconsciente, não se contaminam nunca mais. Mas, é preciso cultivá-las ESCREVENDO sempre nessas línguas. Escrever ao menos semanalmente.       

O inglês é a língua ocidental mais fácil que existe devido à sua gramática bastante simples. É fácil de aprender e de dominar, mas precisa ser praticado (fala, leitura e escrita) para que seja mantido, como qualquer língua. O português é a língua ocidental mais difícil que existe, pois tem a gramatica muito complexa devido ao grande número de exceções e pela dificuldade da conjugação dos verbos. Em grau decrescente de dificuldade para aprender vem depois o francês e só depois, o alemão. É o que dizem os linguistas, estudiosos da fala (linguagem oral). 

A partir dos anos 80, e por influência do jornalismo, que precisa economizar espaço – pois o espaço na publicação impressa é caro -  os textos modernos passaram a apresentar períodos gramaticais mais curtos, que comunicam com objetividade, foco. Inclusive, o jornalismo aboliu o excesso de vírgulas, poluição visual que atropela a leitura e cansa o leitor.   

 Por outro lado, a ênfase - repetição da ideia com outras palavras para “valorizar” a informação -  está ultrapassada. Ela tira o foco da leitura, só faz volume e cansa o leitor, que ainda perde tempo. A ênfase era moda entre os intelectuais do século XIX, que viviam de rendas, por isso tinham tempo sobrando para se exibir com um discurso interminável ou um texto quilométrico, a fim de serem notícia no jornal local. Tola vaidade. Hoje, um autor jurássico desses dá sono na plateia ou no leitor, é logo abandonado e substituído.

Portanto, quem escreve ou faz palestras ou dá aulas universitárias tem de estar atento para três pontos do português da atualidade: texto ou conteúdo curto (foco), poucas vírgulas e nada de ênfase. Isso para não cansar nem perder o tempo do leitor ou do ouvinte. 

O tempo ideal de duração de uma palestra acadêmica ou aula expositiva é de noventa minutos para não cansar os ouvintes que, depois desse tempo, perdem sua melhor concentração, perdem o interesse. No entanto, as aulas de ciências médicas, biológicas, exatas e outras que dependem de experimentação podem levar mais tempo; mas essas ciências exigem outro tipo de concentração.

O professor de Filosofia da Educação Regis de Moraes, da Unicamp, disse, em outras palavras, que, numa aula expositiva (ou palestra), o professor que não deu o seu recado em noventa minutos não tem mais nada de importante a falar.         

O universitário, o pesquisador e o escritor de ficção da atualidade expressam o seu pensamento ágil em textos mais curtos, ágeis -  o essencial, para não perder o foco - o que agiliza a compreensão e a aprendizagem. Os autores do século XXI são os mesmos que utilizam as tecnologias de ponta, que facilitam sua vida e economizam o seu tempo, esse bem precioso. Por isso, eles produzem textos que agilizam a vida dos leitores.  

Como dizia meu professor de Filosofia da Educação Regis de Moraes, nos anos 90, na Unicamp, o Brasil, esse imenso território, é uma nação, pois todos os brasileiros falam uma só língua, de norte a sul, o português que nos une, apesar das nossas diferenças dialetais. 

Amemos a nossa língua portuguesa cultivando-a como a flor mais bela da nossa pátria. 

Profª Maria Lucia

Imagem:

http://www.teiaportuguesa.com/manual/unidade12lusofonia/imagens/mapalingua.jpg

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