segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Mulheres Inteligentes, Relações Saudáveis - 8

Art Nouveau, Mücha, 1899

As leis fundamentais de uma relação saudável  III

A arte de diálogo: desvendando o mundo dos outros

A arte do diálogo é outra lei fundamental das relações saudáveis. É a mais famosa lei, mas a menos conhecida. Quase todo mundo pensa que pratica essa lei, mas apenas 1% a exercita realmente. Dialogar, um verbo tão simples de pronunciar, mas tão difícil de operacionalizar. Dialogar não é conversar, falar coisas triviais, emitir sons. Dialogar é cruzar mundos, penetrar na intimidade, segredar experiências.

Dialogar implica, em primeiro lugar, ouvir. Quem não aprender a ouvir jamais saberá dialogar. E ouvir não é escutar,  muito menos discernir sons. Ouvir é se abrir, colocar-se no lugar do outro, perceber o intangível, perscrutar o essencial. É acima de tudo conhecer o que o outro tem para dizer e não o que queremos escutar. Muitos pais escutam seus filhos, mas não os ouvem. Muitos casais conversam, mas jamais dialogam.

Estranhos vivendo sob o mesmo teto

Milhões de casais dividem o mesmo teto, mas não a mesma história, são próximos fisicamente, mas não interiormente, nutrem-se dos mesmo tipos de prato, mas não do mesmo cardápio do diálogo. Qual o resultado? São muitos. Produzem-se as ditaduras do ciúme, do controle, da crítica excessiva, dos atritos, do medo da perda e tantos outros erros capitais.

Mulheres inteligentes têm notório apreço pelo diálogo. Não são mulheres dissimuladoras, não se escondem atrás da sua posição social, dinheiro ou cultura. Perdem o medo de serem conhecidas e de conhecerem os que lhe são caros. Têm habilidade para perguntar: “O que eu posso fazer para te tornar mais feliz? ‘”Onde errei e não soube? “Quais são suas angústias mais importantes?” “Quais preocupações furtam-lhe a paz?”.

Mulheres inteligentes sabem que o amor nasce no terreno onde as máscaras caem, a maquiagem é removida e nos tornamos o que sempre fomos, apenas seres humanos e como tais, fortes por um lado, frágeis por outro, independentes em algumas áreas, totalmente dependentes em outras.

Mulheres inteligentes, ao exercitarem a lei áurea do diálogo transformam-se em garimpeiras do ouro que procuram  na criança frágil por trás de homens radicais, de filhos alienados e de alunos agressivos. Elas sabem que diálogos simples e abertos irrigam a esperança, aliviam a dor, promovem o amor. 

A arte de autodialogar: desvendando o nosso mundo – o autoconhecimento

O autodiálogo é o rei das leis das relações saudáveis, mas o menos conhecido. É mais poderoso para reeditar ou domesticar nossos fantasmas psíquicos, mas o menos praticado. A arte de dialogar é uma função da inteligência para conhecer os outros, e a arte de autodialogar é uma função para se conhecer a si mesmo.

O autodiálogo é o alicerce de todas as demais leis. Porque sem o autoconhecimento, pelo menos básico, o Eu não tem como se conhecer, e sem se conhecer, não tem como ser o Autor da própria história, e desse modo, terá grandes dificuldades de desenvolver as demais leis das relações saudáveis e as funções mais complexas da inteligência, como gerenciar pensamentos, proteger a emoção, resiliência, generosidade.

Se você se abandona a solidão é insuportável

Há uma frase que o autor cunhou e que tem percorrido o mundo: Se o mundo o abandona, a solidão é tolerável, mas se você mesmo se abandona, a solidão é insuportável.

Se seus colegas a rejeitam, se seus amigos lhe viraram as costas, se seus pais não a compreendem e se seu parceiro a abandonou, a solidão será amarga, mas suportável, No entanto, se você mesmo se abandonar, se não cuidar da sua saúde psíquica, se não aprender a filtrar os estímulos estressantes e a relaxar, a solidão será insuportável.

Brilhantes teorias psicológicas, desde a psicanalítica à cognitiva, não tiveram a oportunidade de estudar o processo de construção dos pensamentos nem a Teoria das Janelas da Memória e do Eu como Autor da história, por isso não incorporaram em seus textos alguns desses mecanismos da formação de traumas. 

Diversas doenças psíquicas são iniciadas por traumas sociais, porém são desenvolvidas pela postura de um Eu que não sabe proteger a emoção nem gerir pensamentos, que lê e relê as janelas killer solitárias de  uma imensa plataforma doentia na MUC (memória). Somos vítimas e, sem o saber, agentes construtores dos nossos conflitos.

Pode-se achar o autodiálogo até uma coisa estranha.  Mas deveríamos treinar a fazer uma mesa redonda com nossos conflitos através da arte da dúvida e da autocrítica. Tal mesa redonda é tão importante como escovar os dentes e tomar banho.  

Mulheres inteligentes devem manipular a ferramenta do autodiálogo para questionar quais são os traumas que as perturbam: excesso de peso, magreza, feiura, incompetência. Devem também se perguntar o que as controla: medos, autopunição, inveja, ciúme, autocobranças, ideias fixas, sentimento de inferioridade, sofrimento por antecipação, preocupações excessivas.

Mulheres inteligentes sabem que desenvolver a saúde psíquica é fundamental para conquistar um amor saudável e ter relações felizes. Sabem também que ser livre não é viver em democracia, mas ter  liberdade no complexo mundo psíquico que nos torna seres pensantes. Sabem ainda que não basta ter uma moradia digna para ter conforto, é preciso encontrar o mais importante dos endereços, um endereço dentro de si mesma.

Que você aprenda a autodialogar. E ao autodialogar, não tenha medo de enxergar-se. E ao enxergar-se, reconheça seus conflitos. E ao reconhecê-los, não desanime. Liberte seu Eu para reescrever sua história. Escreva seus melhores textos nos dias mais tristes da sua vida.

Para casais inteligentes

De repente, quando olhava para o horizonte, ela viu a figura de um homem. Seus passos ansiosos denunciavam um forte desejo, um reencontro, um recomeço. Era o homem que a abandonara. De longe abriu os braços. Sob a aura de uma emoção  incontida, ela saiu e correu ao seu encontro. Ele abraçou-a, beijou-a e pediu desculpas. Disse que enfrentaria o mundo com ela. Navegaria nas águas do desprezo e nos vales do vexame social, mas jamais a deixaria novamente. O amor faz loucuras.

Brigar, gritar, impor ideias, nem de longe significa ter um Eu forte, mas sim frágil. Falar o que vem à mente, dizer sempre a verdade, nem sempre é a expressão de um Eu maduro, mas sim, de quem não tem autocontrole. Um Eu forte e maduro aquieta sua ansiedade, protege quem ama, pede desculpas sem medo, aponta primeiro o dedo para si antes de falar dos erros do outro, repensa sua história, exige menos e se doa mais, não tem a necessidade neurótica de mudar quem ama, conhece, portanto, todas as letras do alfabeto da generosidade. (continua)

Fonte:
Mulheres inteligentes, relações saudáveis, Augusto Cury, 2011 (Psicologia aplicada para leigos. Extrato de um capítulo nas palavras do autor.) 

Nota: Alphonse Mücha, artista tcheco da Art Nouveau  (“Arte Nova” francesa, decorativa, inspirada em figuras naturais, plantas, flores e curvas. Século XIX.)

Profa. Lúcia Rocha

Imagem: https://www.flickr.com/photos/swallowtailgardenseeds/14801155027

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