segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ética - As Virtudes

Madona da Romã, Boticelli

(Para sua reflexão)

Introdução

A Ética é uma divisão da Filosofia que estuda a Moral, ou seja, que faz uma reflexão sobre o sentido  das regras morais de uma sociedade.  A Moral é um conjunto de regras para bem viver numa sociedade. A Ética analisa as virtudes e os vícios, que fazem parte da moral de uma sociedade.

Como disse Aristóteles, na Antiguidade, “A virtude é uma boa qualidade moral”. Aristóteles também disse que a virtude implica a aquisição de um bom hábito moral que se adquire pela repetição através da educação. Ele analisou quatro virtudes: a prudência, a temperança, a justiça e a fortaleza (coragem). 

 Na atualidade, quem cuida da educação para os valores humanos é a família, a escola  e a religião. Mas, hoje somente a família e a religião se preocupam com a educação moral (os valores do “ser”), as virtudes.  As principais virtudes são a fé, a esperança e a caridade (ou amor ao próximo),  como disse Jesus e o apóstolo Paulo depois dele. 

As virtudes 

Atualmente, além da fé (a fé raciocinada, e não fé cega, como nos recomendou Kardec), a esperança e a caridade, podemos acrescentar as seguintes virtudes: a disciplina, a dedicação, a paciência, o respeito, a humildade, a simplicidade, a modéstia, a coragem, a temperança (evitar os excessos com o corpo e o espírito), o perdão, a reconciliação, a prudência, a tolerância, a perseverança, a honestidade, a fidelidade, a modéstia, o otimismo, a gratidão, o sentido do belo, etc. A virtude mais difícil de adquirir é a disciplina, depois a paciência, o perdão, o respeito e  a simplicidade. 

A paciência é das últimas virtudes que adquirimos por completo, por isso somos submetidos a muitos “testes” de paciência nas diversas reencarnações, que nos obrigam a aturar familiares indesejáveis (inclusive companheiros e filhos), colegas de trabalho insuportáveis, vizinhos difíceis, perdas materiais e morais, doenças graves. Um bom professor tem a paciência de repetir quantas vezes forem necessárias um ensinamento para os seus alunos. 

Quem não tem a paciência bem desenvolvida irrita-se com tudo, não releva nem perdoa nada,  é “pavio curto”, explode por qualquer coisa que contrarie sua vontade de pessoa orgulhosa. Desenvolver a paciência é muito importante para não termos de renascer num contexto de famílias difíceis, colegas de trabalho insuportáveis, etc. Em primeiro lugar, a paciência exige ficar calado quando as coisas não estão do nosso gosto, por isso ela exige também o perdão constante. 

O perdão também é uma virtude difícil de adquirir. Quem não perdoa carrega o ódio no coração, de vez em quando sua consciência o atormenta pelo remorso. Quem não perdoa vive preso numa desavença do passado remoto ou recente. Tem uma mancha escura terrível no períspirito, cheia de ódio. Quantos homens passam a vida presos ao ódio do passado porque não conseguem perdoar alguém? Para perdoar não precisamos fazê-lo pessoalmente, basta perdoar de coração a pessoa que nos prejudicou, desejando tudo de bom a ela, apenas em pensamento e em oração a Deus. 

Só quando o perdão supera o ódio é que o  vínculo negativo é cortado e nos libertamos da pessoa indesejável para sempre e tudo cai no esquecimento. O perdão nos proporciona a oportunidade de reconciliação (“fazer as pazes”), mesmo na distância. Jesus nos recomendou fazer sempre a reconciliação através do perdão, enquanto estamos nesta vida, para não termos de levar esse desafeto para a próxima existência em condições ainda mais difíceis.    

A simplicidade é uma grande virtude, pois ela se refere à essência das coisas. A simplicidade completa é o minimalismo, ou seja, contentar-se, ser feliz com o essencial para viver e fazer tudo visando a essência das coisas. Por exemplo, uma boa professora universitária é simples em suas aulas e projetos. Ela se concentra na essência do que vai ensinar, por isso trabalha mais com a síntese. Na sala de aula,  faz inicialmente uma pequena análise do tema a estudar (dá uma certa quantidade de informações)  e depois se fixa na essência (resumo das informações ou síntese). A síntese focaliza a essência do tema, é a simplicidade com rendimento total. Essa professora não exige uma lista enorme de livros para a leitura semestral, concentra-se em poucos tópicos de alguns livros, o suficiente em nossos dias. Da mesma forma ela pede  trabalhos dissertativos e projetos suscintos, bem como posters, que já são uma síntese. Usando mais a síntese do que a análise,  ela obtém o máximo de foco, de  concentração em tudo o que ela faz, de rendimento. Assim, ela economiza energia mental, não fica desgastada, nervosa e não causa estresse nos seus alunos. E ainda atende ao atual padrão da economia do tempo imposto pelas novas tecnologias, todas baseadas na velocidade que, afinal,  sintetiza o tempo. Essa professora dá um bom exemplo e é amada por seus alunos, que apresentam excelente aprendizagem. Por isso, ela tem uma avaliação de alto conceito na diretoria da faculdade, faz uma excelente carreira.  

O contrário do homem simples é o homem complicado, o que torna sua vida uma parafernália porque acumula um emaranhado de tarefas. O homem complicado está sempre estressado, pois quer fazer diversas coisas ao mesmo tempo. Muitas vezes, o complicado assume uma quantidade excessiva de compromissos (muitos focos) ignorando que não vai  dar conta de fazer direito nenhum deles,  o que é um comportamento imaturo e irresponsável.    

A vida tem muitos caminhos, muitos deles tentadores. Mas, não se pode querer fazer tudo, isso é imaturo. Nós devemos nos concentrar exclusivamente em nossos deveres. Mesmo assim, nós devemos priorizar nossos deveres, fazer uma coisa de cada vez para não perdermos o foco e para fazermos tudo  bem feito, cumprindo prazos e metas, e sem estresse.  E pedir ajuda, se necessário, sem um tolo orgulho. Portanto, ser simples é uma grande responsabilidade, um grande passo para a vida adulta. A simplicidade exige muita disciplina, uma longa aprendizagem que também se dá seguindo  bons exemplos.    

O Espírito André Luiz, nos seus livros psicografados por Chico Xavier,  nos conta que, no Plano Espiritual Superior, os guias nos dão o bom exemplo: são focados num único objetivo de cada vez, com disciplina total. Inclusive lá a vida se resume na essência, na simplicidade, desde o cenário físico que é clean, sem excesso de adereços, o que é um padrão de beleza mais evoluído. Ser simples na Terra não significa ser ignorante e mal apresentado, mas sim não ter um apego excessivo aos bens materiais, resumindo-se ao essencial para viver bem neste mundo. Ser simples é também ser focado nos trabalhos intelectuais. 

A humildade também é outra virtude difícil de adquirir. Ela inclui a modéstia. Chico Xavier foi humilde, assim como Francisco de Assis. Mas esses homens mostraram-se possuidores de todas as virtudes, chegaram ao ápice da evolução neste mundo, são honrosas exceções, mas ótimos exemplos. Ser humilde não significa ser ignorante, mas sim uma pessoa confiante em suas qualidades e por isso não precisa exibir-se na hora errada para os outros insuflarem sua vaidade. O contrário da humildade é o vício do orgulho que se atrela à vaidade excessiva. Há pessoas com muitos títulos acadêmicos que são humildes, não precisam ser vaidosas, de nariz em pé, pois somente exibem seus conhecimentos em ocasiões adequadas e para viver bem neste mundo, realizar projetos, arranjar bons empregos; estão adiantadas na caminhada evolutiva, elas dão um bom exemplo. Há pessoas com pouco estudo que são orgulhosas, vaidosas, estão no início da caminhada evolutiva, elas dão um mau exemplo.

O respeito pelas pessoas e instituições é indispensável na vida em sociedade. O Art. 5º da Constituição se refere “ao direito à privacidade”, o que significa respeito à privacidade das pessoas e também das instituições, etc. O respeito começa com o modo de tratar as pessoas e aos seus pertences, sejam de que idade forem. É preciso ter respeito aos animais domésticos, à flora e à fauna. 

 É preciso ter respeito pelos símbolos nacionais como  a bandeira (o mais importante deles), o hino, o brasão e o selo. É preciso ter respeito pelo patrimônio público e privado, tais como os prédios de instituições públicas e privadas com suas instalações, mobiliário, aparelhos, etc., a exemplo das escolas, universidade, hospitais, teatros, cinemas, estádios. O respeito exige limites, o que se deve impor como disciplina indispensável às crianças e aos adolescentes, desde cedo, para que se tornem adultos respeitadores, que vivem dentro dos seus próprios limites. Os limites de cada um terminam aonde começam os limites do outro.         

A disciplina é a virtude mais importante, uma das mais difíceis de adquirir. Ela é adquirida pela prática de bons hábitos. Como o nome diz, a disciplina é o cumprimento de um dever que a pessoa deve obedecer em seu comportamento consigo mesma e com os outros na vida social. Ter disciplina é ser rigoroso consigo no cuidado com o corpo e com o espírito. Ter disciplina é ter organização e planejamento para cumprir um dever ou atingir uma meta. Ter disciplina é respeitar regras, regulamentos, normas e leis. Quem aprende a ter disciplina consigo mesmo e com o próximo está no caminho de adquirir as demais virtudes, pois só se adquire uma virtude com hábitos disciplinados. Uma pessoa disciplinada não pratica vícios de nenhum tipo, pois ela aprendeu o auto-domínio sobre a sua vontade. Uma pessoa disciplinada só direciona a sua  vontade  para a prática do bem e assim ela tem a tão desejada paz de espírito.  

O trabalho assalariado, por exemplo,  exige como parte  da sua disciplina, o respeito aos horários da entrada, do almoço e da saída, bem como ter pontualidade e assiduidade, não ficar de conversa inútil durante as tarefas, ter vestuário e aparência discretos, etc. André Luiz afirma que devemos chegar nos compromissos com dez minutos de antecedência; deixar tudo para a última hora, viver correndo e em atropelos é indisciplina de pessoas emocionalmente imaturas, mesmo sendo adultas, o que, além disso, causa estresse, complica a vida.  

Uma casa de família é funcional se seus donos têm uma disciplina pelo menos básica cumprindo os deveres de conservação dos alimentos, objetos, aparelhos, organizando uma infraestrutura, etc. A disciplina com o corpo exige cuidados e respeito aos horários da alimentação, higiene,  medicação, exercícios físicos se possível, horário para dormir e para acordar, etc. A disciplina com o espírito exige evitar os excessos de atividade e ainda ter lazer, férias que respeitem o corpo e o espírito. A disciplina com o espírito se prende também ao estudo dedicado nas várias etapas da escolaridade.  

Sem disciplina diária nossa vida se tornaria um caos. A disciplina exige a retomada diária de certos comportamentos fundamentais, telefonemas, conversas, mensagens, tudo  para “não deixar a peteca cair”, para não perder compromissos nem amizades. A disciplina humana funciona pela repetição de um bom comportamento que se transforma num bom hábito. A disciplina do adulto baseia-se na autoeducação e se prende a deveres a cumprir diariamente, sempre, já que vivemos numa civilização. O contrário da disciplina é a indisciplina, a falta de limites, cada um agir como criança desrespeitosa  fazendo o que bem entende, querendo instaurar o regime da “terra de ninguém”, o completo caos, o que não se admite na nossa civilização.

As leis existem para impor disciplina à sociedade para que haja justiça, ou o país seria um caos. Nossa bandeira tem um dístico que é um convite à disciplina: “Ordem e Progresso”.   

Chico Xavier, aos 17 anos, foi orientado pelo seu mentor espiritual Emmanuel ao receber sua missão como médium psicógrafo do Espiritismo. Então Chico, perguntou-lhe o que era preciso fazer para desincumbir-se com responsabilidade da honrosa missão de psicografar muitos livros para complementar a Doutrina Espírita. Um trabalho de uma existência inteira. Emmanuel respondeu-lhe que eram necessárias três coisas: ”Disciplina, disciplina, disciplina.” Chico respeitou o seu mentor espiritual, cumpriu religiosamente essa exigência até o final dos seus dias, aos 93 anos de idade, num exemplo maravilhoso de espírito encarnado que nos deu. É o que está narrado em “Lindos casos de Chico Xavier”, de Ramiro Gama, uma biografia do Chico. 

 “Questão 893. Qual a mais meritória de todas as virtudes? Todas as virtudes têm seu mérito, porque todas são sinais de progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento dos maus pendores. Mas a sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal, pelo bem do próximo, sem segundas intenções. A mais meritória é a que se baseia na mais desinteressada caridade. ( Kardec, Allan. “O livro dos espíritos”. ) 

 “A humildade e o orgulho são os dois polos do coração humano: um atrai todo o bem; o outro, todo o mal; um tem calma; o outro, tempestade; a consciência é a bússola que indica a rota conducente a cada um deles.” [...] (Kardec, Allan. Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos, vol. 16.) Fonte: http://www.febnet.org.br/wp-content/uploads/2013/01/Mod-3-Rot-8-As-virtudes-segundo-o-Espiritismo.pdf

Como dizia Aristóteles, lá na Antiguidade, as virtudes são adquiridas pela educação que se firma através de bons hábitos. Os bons hábitos se formam pela repetição constante, o que é desejável para a educação das crianças e dos adolescentes. A auto-educação dos adultos implica uma reforma interior conforme nos ensina O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Conclusão 

Tudo o que fazemos de bom ou de ruim fica registrado na nossa memória maior, o nosso grande arquivo que está na mente do períspirito. Cada nova reencarnação é uma nova oportunidade, um recomeço do aprendizado das virtudes e o abandono dos vícios para mais um passo na caminhada evolutiva.               

Não deixemos para amanhã o que pudermos fazer hoje. Mas também não façamos esforços físicos ou intelectuais excessivos no dia de hoje, se pudermos deixar um pouco para amanhã. É preciso ter equilíbrio, o que só se consegue com disciplina. 

O Espírito Bezerra de Menezes disse: “O que é fundamental basta”. Jesus disse: “A cada dia basta o seu mal.” (Mateus, 6:34). São ensinamentos da sabedoria antiga para uma vivência de disciplina evitando-se assim o estresse - o mal do século - e para se ter um corpo saudável e  paz de espírito.

O maior objetivo do espírito, seja encarnado ou desencarnado, é a conquista da paz, sem a qual ele vive num verdadeiro inferno. Mas, a paz só se alcança com a consciência tranquila  pelo bom cumprimento dos deveres do “ter” (materiais) e do “ser” (morais). Jesus, o Nosso Senhor, foi o exemplo de virtude. Ele disse: “A minha paz vos deixo, a minha paz vos dou.” (João,14: 27-31). 

Fontes: “O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec. E as obras da série “Nosso Lar” e os livros “Estude e viva” e “Sinal Verde”, estes dois últimos sobre boa conduta,  todos do Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, Editora da Federação Espírita Brasileira. 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Arist%C3%B3teles

Imagem: Madonna della Melagrana  (Madona da Romã), 1497. Esta obra de Sandro Boticelli é uma têmpera sobre madeira, um tondo (moldura redonda) que mede 143,5 cm de diâmetro. O lírio é símbolo da inocência; as rosas  simbolizam a Virgem ; e a romã é aqui usada como símbolo do sangue derramado em cada estação da Paixão de Cristo. Na belíssima obra, o olhar tranquilo dos personagens retratados nos passa uma mensagem de paz. Está exposta na Galleria degli Uffizi, Florença, Itália. O italiano Sandro Boticelli foi um grande pintor retratista do início do Renascimento, século XV. Ele vem antes de Raphael Sanzio (século XVI).

Profa. Lúcia Rocha

Imagem: http://firepic.org/images/2015-01/23/64kmloti42ex.jpg

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