segunda-feira, 22 de junho de 2015

Mulheres Inteligentes, Relações Saudáveis - 1

Art nouveau, Alphonse Mücha, 1899

A teoria do Eu como autor da história

Os livros do autor são de divulgação científica, democratização do conhecimento para leigos. Por trás das ferramentas que ele expõe há uma teoria chamada Inteligência Multifocal, que estuda o funcionamento da mente, a formação do Eu como gestor psíquico, os papéis da memória e o processo de construção de pensamentos e a formação de pensadores.

O Eu deve ser equipado em especial para ser o Autor da sua história. Por que brilhamos no mundo de fora, mas somos tão opacos no mundo interior? Por que guerras, homicídios, discriminações, transtornos psíquicos, conflitos sociais fazem a pauta de nossa história? Por que pais sonham em dar a melhor educação para os filhos, mas nem sempre têm êxito? Por que casais apaixonados que prometem juras de amor podem acabar inimigos? 

Há muitas causas para explicar as mazelas humanas. Elas passam por fatores sociais, econômicos, educacionais, genéticos, mas também pelos fenômenos que estão na base do funcionamento das nossas mentes, em especial pelas falhas do Eu como gestor psíquico e pelas dificuldades de reconstruir as janelas da memória. 

Para desenvolver estratégias, o Eu precisa explorar e conhecer o seu próprio mundo. Saber onde está e aonde quer chegar. Depois disso, estabelecer metas e em seguida fazer escolhas e consequentemente saber que todas as escolhas também envolvem perdas. 

A Teoria das janelas da memória

A Teoria das janelas da memória é uma área fundamental da Teoria da Inteligência Multifocal e revela uma parte central do psiqusmo humano. Em primeiro lugar, devemos saber que a memória humana não é lida globalmente, como fazemos nos computadores, mas por áreas específicas que chamo de janelas. Através das janelas vemos, reagimos, interpretamos. Quantas vezes tentamos nos lembrar de algo que não vem à cabeça? A janela permaneceu fechada ou inacessível.

Janela da memória é, portanto, um território de leitura num determinado momento existencial. Em cada janela pode haver centenas ou milhares de informações e experiências. O maior desafio de uma mulher, de um modo geral de todo ser humano, é abrir o máximo de janelas em cada situação. Se ela abre diversas janelas, poderá dar respostas inteligentes. Se as fecha, poderá dar respostas medíocres, estúpidas, agressivas. Somos mais instintivos e animalescos quando fechamos as janelas e mais racionais quando as abrimos.

O mundo dos sentimentos possui as chaves para abrir as janelas. Medo, tensão, angústias, pânico, raiva, inveja podem fechá-las. Tranquilidade, serenidade, prazer, afetividade podem abri-las. A emoção pode fazer intelectuais reagirem como meninos agressivos e pessoas simples reagirem como elegantes seres humanos. Sob um foco de tensão como perdas e contrariedades, uma mulher serena pode ficar irreconhecível. O que mudou? O grau de abertura das janelas.

Há mulheres hipersensíveis no ciclo da ovulação quando as alterações hormonais geram uma importante tensão pré-menstrual. Tal tensão pode fechar as janelas da memória, dificultando o acesso do Eu a importantes informações e levando-as , nesse período, a serem irritadiças, intolerantes, mal-humoradas. Conhecer a Teoria das Janelas da Memória pode ajudá-las  a fazer a oração dos sábios nos focos de tensão: o silencio proativo. A melhor atitude de uma mulher inteligente que está sob o calor da ansiedade é não se obrigar a reagir, é se preservar. É importante  gerenciar a emoção e esperar a tensão passar para depois tomar atitudes. Não leve a vida a ferro e fogo. Respeite seus limites.

Um mundo fascinante e incontrolável

Veja como as janelas interferem em nosso comportamento. A abertura das janelas depende muito do estado emocional. Medo, pressão, crises, tensão fecham as janelas. Há pessoas que engasgam ao falar em público, embora sejam eloquentes. Alunos podem ter péssimo desempenho nas provas se estiverem ansiosos. Intelectuais podem agir como frágeis meninos se forem contrariados.

A Teoria das Janelas da Memória nos ilumina para entender os erros capitais das relações doentes e as leis fundamentais das relações saudáveis. Por que mulheres impulsivas agem sem pensar? Porque, estressadas, as janelas se tornam puntiformes, restritas. A ditadura da impulsividade causa muitos acidentes.

Por que mulheres ciumentas perdem o autocontrole? Porque nas crises de ciúme seu Eu não tem acesso às janelas que poderiam financiar sua autoconfiança e sua autoestima.

Por  que há mulheres cultas que são autopunitivas? Entre diversas causas, destaca-se a dificuldade de acessar janelas em cálidos momentos que as façam relaxar e superar a necessidade de serem perfeitas.

Há pessoas depressivas que dão uma pausa na sua dor e sentem lampejos de alegria. Elas saíram da imensa área de janelas que financiam a desmotivação, o pessimismo, o humor depressivo e entraram na área que tinha janelas light que financiaram essa alegria temporária. Isso indica que a sua memória  não é toda desértica! Ela pode e deve alargar as fronteiras dessas nobres áreas. 

Há três grupos básicos de janelas da memória: as neutras, que contêm milhões de informações numéricas, endereços, dados; as janelas light, que financiam o prazer, a tranquilidade, a serenidade, a lucidez; e as janelas killer, que alicerçam o humor triste, a ansiedade, a agressividade, a irracionalidade, as fobias. Quanto a estas últimas há as janelas tão poderosas que são chamadas de janelas killer power; elas são lidas e relidas e destroem com facilidade nossa tranquilidade, autoestima, prazer de viver.

O Eu, como líder da psique, deveria aprender a romper as fronteiras das janelas killer e penetrar nas áreas das janelas light. Eis a grande meta da mulher inteligente!

Para homens inteligentes

Homens inteligentes sabem que as mulheres são admiravelmente complexas, um mundo a ser explorado, um tesouro a ser descoberto. Elas são tão fascinantes que, no dia em que eles acharem que conhecem uma mente feminina, deveriam saber que erraram o diagnóstico. 

Homens inteligentes têm consciência de que o mais calmo ser humano tem seus momentos de estresse, o mais ponderado tem reações incoerentes, o mais generoso tem momentos de egoísmo e, portanto, deveriam saber que quem não reconhece seus erros e pede desculpas, especialmente para a mulher que ama e para seus filhos, jamais alcançará a maturidade psíquica nem construirá relações saudáveis.

A cidade da memória: o indomável mundo de nossas mentes

Mulheres inteligentes são conscientes de que nos primeiro trinta segundos de ansiedade elas podem cometer os maiores erros de suas vidas. Palavras que jamais deveriam dizer para seus homens e vice-versa, atitudes que mães jamais deveriam expressar para seus filhos e vice-versa são produzidas quando o Eu se torna vítima das janelas killer.

Killer quer dizer assassino. As janelas killer assassinam a saúde mental, bloqueiam o Eu como gestor de nossas mentes, impedem-no de ser livre e dar respostas inteligentes. Nos momentos de tensão a melhor resposta é não dar resposta. A melhor resposta é não reagir pelo fenômeno bateu-levou, mas fazer a oração dos sábios: o silencio proativo. Mulheres inteligentes não abrem mão desse equipamento.

Essa técnica poderia ter evitado guerras, homicídios, suicídios e violências mil em nossa história. 

O tempo dos escravos emocionais: influencias das janelas

Por que nos lembramos das experiências que mais marcaram nossas emoções e nos esquecemos de milhões de outras? Porque foram arquivadas de maneira privilegiada.

As janelas light são construídas a partir de experiências de alto volume emocional saudável, como beijos, abraços, elogios, apoios, aprovações, encorajamentos, garra, disciplina, determinação, ousadia, consciência crítica, autocontrole, sonhos.

As janelas killer, onde estão arquivados os traumas e conflitos, são formadas pelas experiências com alto volume emocional doentio, como fobias, pânico, raiva, rejeição, discriminação, deboche, agressividade, ofensas públicas, humilhação, traição, exclusão social, autopunição, autocobrança excessiva, sentimento de culpa, complexo de inferioridade.

Quem arquiva as informações nas janelas? Não é o Eu, não é o desejo consciente, mas o fenômeno Registro Automático da Memória (RAM). Somos deuses da memória em nossos computadores, arquivamos o que queremos e quando queremos. Na memória humana não temos essa liberdade.

O que torna a mente humana sofisticadíssima é que tudo o que foi arquivado pelo fenômeno RAM não poderá jamais ser deletado, apagado, negado, proscrito. Nos computadores você apaga o que bem entende. Em nossa memória, se não tomarmos cuidado, dormimos com o inimigo.

Se o Eu foi um péssimo filtro ou mau protetor da emoção, uma barata pode ser arquivada de maneira  fantasmagórica a ponto de se tornar um monstro. 

Conhecendo a cidade da memória

Toda cidade tem seu centro e seus bairros periféricos. Usando esta metáfora, do mesmo modo a memória humana é como uma grande cidade que tem seu centro consciente que chamo de Memória de Uso Contínuo (MUC), e seus inumeráveis bairros periféricos inconscientes, que chamo de Memória Existencial (ME). A MUC tem os segredos para nos fazer pensar, interpretar, atuar, trabalhar, relacionar-se no presente. A ME tem os segredos de nossa identidade, nossa história existencial tecida desde a vida intrauterina. Na Memória Existencial ou inconsciente temos bilhões de informações. Na memória de Uso Contínuo ou consciente, milhões.

Tudo o que está na MUC, no centro, pode com o tempo ir para a ME, a periferia, e muitas experiências que estão na ME podem retornar ao centro. Desse modo o consciente e o inconsciente têm vias de mão dupla. O autor não aprecia os termos memória de curto prazo e memória de longo prazo apontados na neurociência. São bons termos, mas engessados. Quando entendemos a cidade da memória e a Teoria das Janelas, vemos que o trânsito de reações, pensamentos e emoções flui constantemente entre a MUC e a ME, entre o consciente e o inconsciente, o presente (curto prazo) e o passado (longo prazo).

Você acabou de encontrar uma amiga de infância. Havia décadas que não a via e não se recordava mais dela, nem de todas as aventuras que viveram juntas. As informações sobre ela estavam em janelas da ME. Mas ao vê-la e iniciar um diálogo, detona-se o gatilho da memória, que é um fenômeno inconsciente que abre as janelas do passado. De repente, um bairro inteiro desse passado se deslocou da periferia para o centro, a MUC, e você começa a fazer inúmeras recordações que aparentemente estavam apagadas. Na realidade estavam adormecidas na Memória Existencial (ME).

Mulheres inteligentes não são heroínas 

Para estar preparada na superação da timidez, insegurança, baixa autoestima, reações ansiosas, ciúme, fobias, humor depressivo, a primeira coisa é não se colocar como heroína. Transformar nossas características doentias não depende apenas de uma vontade forte.

A saúde psíquica não pertence aos heróis, mas aos simples combatentes que treinam todos os dias. Vontade determinante é apenas um passo porque estimula o fenômeno RAM a produzir janelas solitárias. E janelas solitárias não são suficientes para mudanças estáveis, apenas temporárias. Talvez 99% dos desejos de mudança dos seres humanos ao longo de nossa história resultaram em fracassos. Geraram apenas janelas solitárias. 

Todas as mulheres que dizem que de hoje em diante serão bem-humoradas, pacientes, seguras, alegres, falham quando chega o calor da segunda feira. Formaram janelas solitárias. 

O Eu precisa desenvolver estratégia para construir não uma residência isolada ou uma janela solitária  na MUC, mas bairros inteiros na cidade da memória, longas plataformas de janelas light onde podemos viver, andar, relaxar.

Uma pessoa, mesmo que tenha sido abusada sexualmente ou passado por privações e perdas dramáticas na infância e consequentemente desenvolveu notáveis conflitos, se reconstruir uma plataforma de janelas light no centro da memória ou MUC poderá viver uma vida emocional feliz e saudável. A Teoria das Janelas da Memória, portanto, traz uma grande notícia para as pessoas que foram dilaceradas em sua história. 

Para homens inteligentes

Homens inteligentes sabem que podem ser socialmente livres, mas emocionalmente escravos. Buscam proteger sua emoção como os sedentos em terra seca. Não têm medo de serem contrariados ou frustrados, pois não têm a necessidade neurótica de estarem sempre certos. São amáveis mesmo quando apontam erros.

Homens inteligentes sabem que o Eu é muito mais do que um pronome empregado numa frase. O Eu, para eles, representa a capacidade de escolha, a vontade consciente, a habilidade de ser gestor de sua mente e, por terem tal entendimento, equipam, esse Eu para ser autor de sua história e protetor de sua emoção. Sabem que, se não aprenderem a proteger a emoção, poderão ser miseráveis morando em palácios.

(Mulheres inteligentes, relações saudáveis, Augusto Cury, 2011). Livro de ciência aplicada; psicologia para leigos)

Profa. Lúcia Rocha

Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiBms_LstpSDm0BScOh9f3XyKYVvI8u04ikzvOl-rwANaoR7TEFohdi6PqImsJYt4QWCMremsInA70XraI0GOVlhawkqvlyJRO0qh36lfFFjMxj5ro6AlG2YTDYOblcqWks7AdcQ9VVXHs/s1600/Alfons_mucha_obraz_1.jpg

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