segunda-feira, 23 de maio de 2016

Neurociência e Educação: Cérebro e podas neurais


Durante muitos anos predominou a crença de que após o nascimento os neurônios eram incapazes de se recuperar de lesões, pois não tinham como se auto reproduzir. Porém, com o avanço da ciência, sabe-se que esta teoria não é verdadeira. Os neurônios são capazes de se modificar durante toda a vida e até mesmo de se auto reproduzir em alguns locais do cérebro. A Plasticidade Cerebral -  como é conhecida esta capacidade adaptativa do Sistema Nervoso Central (SNC) -  é a habilidade para modificar a organização estrutural e funcional em resposta à experiência (estímulos ambientais).

Nosso cérebro é uma obra de arte em constante construção. A cada nova aprendizagem, novos circuitos neuronais são ativados, novas sinapses (conexões entre neurônios) são formadas, eis aí sua plasticidade. Cada neurônio envolvido neste ativo processo aumenta seu vigor funcional, reduzindo assim, a possibilidade de ser eliminado através da “apoptose”.

“Apoptose” é uma espécie de suicídio dos neurônios, um processo de poda dos mesmos (fortalecimento de sinapses necessárias à via e perda de sinapses menos importantes), uma vez que alguns deles não estão em constante uso. Sendo assim, após um determinado tempo, faz-se o desligamento de alguns neurônios para dar espaço a outros que estejam em constante uso poderem se desenvolver com maior eficiência. 

Alguns autores apontam que a cada ciclo de 7 anos, em média, nossa psique sofre modificações internas pelas podas neuronais e vivencias comportamentais onde recebemos influencias do meio em que vivemos, afetando assim nossa subjetividade, o que nos torna indivíduos permanentemente mutáveis.

Uma das  primeiras podas neuronais se dá na primeira infância. Ao nascer  o cérebro desenvolve muitas ramificações neuronais afim de que a criança possa se desenvolver em toda e qualquer área. Mas, com o passar do tempo, algumas ramificações são utilizadas mais que outras, e assim as menos ou nunca utilizadas passam pela primeira poda neuronal: o próprio cérebro descarta todos os neurônios que até então não foram utilizados de forma adequada.

Durante a etapa pré-natal e a primeira infância, o cérebro produz muitos mais neurônios e conexões sinápticas de que chegará a necessitar, como uma forma de garantir que uma quantidade suficiente de células chegue a seu destino e que conectem-se de forma adequada. No entanto, para se organizar, o sistema nervoso programa a morte celular de vários neurônios (apoptose) e a poda de milhares de sinapses que não estabeleceram conexões funcionais ou que “já cumpriram sua tarefa”. As sinapses que envolvem “neurônios competentes e ativos na rede” são as que permanecerão e a funcionalidade de cada um destes circuitos neuronais é o que nos permitirá aprender, memorizar, perceber, sentir, mover-nos, ler, somar ou emitir, desde respostas reflexas até as mais complexas análises relacionadas à física quântica.

Outro período de poda neuronal se dá na adolescência e pode levar anos até se concretizar por completo.

Também falando sobre podas neurais, o site Innatia (http://noticias.innatia.com/noticias-c-salud-bienestar/a-cerebro-en-construccion-10839.html), traz um artigo sobre o assunto:

Segundo o pediatra americano Jay Giedd, diretor do Instituto Nacional de Saúde Mental, em Bethesda (EUA), o cérebro humano está em constante crescimento (construção), até o final da adolescência. O pesquisador fez um estudo em Barcelona que analisou mais de 2.000 pessoas com idade entre 3 e 25 anos, o que lhe permitiu observar que, no final da infância, o cérebro passa por um aumento 'inconcebível' de neurônios e conexões neurais, que em seguida são reduzidos durante a adolescência. Esta "poda" neural, que culmina com a passagem da adolescência para a idade adulta, ocorre primeiro na parte de trás do cérebro e, finalmente, no córtex frontal, que é o que controla o raciocínio, tomada de decisão e controle emocional. A descoberta desmente a tese de que o cérebro começa a ficar totalmente maduro entre 8 e 12 anos e explica a questão por que muitos adolescentes não começam a pensar e se comportar como adultos numa idade tão avançada que às vezes ultrapassa 20 anos.

O autor também descobriu que a poda neuronal ocorre mais cedo nas meninas do que em meninos e nos jovens mais inteligentes ocorre em uma idade mais jovem.

Nota de Lúcia Rocha: As podas neuronais após a infância ocorrem porque o cérebro já não precisa dos neurônios usados pela criança para aprender a andar, falar, etc. (atividades físicas e mentais). O mesmo ocorre no final da adolescência quando o cérebro já não precisa de certos neurônios para fazer raciocínios lógicos mais simples na aprendizagem escolar, relacionamentos etc.   

Fonte: http://neuropsicopedagogianasaladeaula.blogspot.com.br/2012/10/plasticidade-cerebral-e-podas-neuronais.html?spref=bl

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Nota de  Lúcia Rocha: 

No Programa Bem Estar da Rede Globo do dia 13 de maio de 2016, a Pediatra Dra Ana Escobar explicou que, até os 2 anos de idade,  o cérebro da criança está em construção. Para desenvolver suas sinapses (conexões neuronais), o cérebro da criança precisa de afeto e de estímulo a fim de que possa construir suas funções sobre bases sólidas: o raciocínio, o relacionamento humano, etc. Essa tarefa cabe aos pais, cuidadores, parentes, vizinhos, todos que convivem com a criança.

Em particular, penso que o mesmo ocorre com o adolescente após a primeira poda neuronal da infância. O cérebro do jovem precisa construir novas sinapses a partir de novas experiências físicas e emocionais. Por isso, o adolescente também precisa de afeto e estímulo para continuar o desenvolvimento do seu cérebro até que chegue à idade adulta. 

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Imagem: http://zunanaturals.com/wp-content/uploads/2015/07/dreamstimemaximum_26057461.jpg

Um comentário:

  1. É matéria de suma importância para uma compreensão mais profunda do desenvolvimento do feto à adolescência, inclusive no monitoramento e direcionamento das tendências. Por isso é que a educação deve ser iniciada a partir do início da gestação.

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