segunda-feira, 14 de março de 2016

Platão

A Escola de Atenas, Rafael

  

Platão nasceu em Atenas, a capital da Grécia, em 428/7 a.C. Ele pertencia a uma tradicional família ateniense ligada a figuras eminentes da política, sobretudo pelo lado materno. A crítica de Platão à democracia ateniense vinha do seu conhecimento direto das manobras políticas, desde a infância. 

O grande acontecimento da mocidade de Platão foi o encontro com Sócrates, em Atenas. Platão tornou-se discípulo de Sócrates e seguiu seus debates. Como escreveu, mais tarde, no diálogo Fédon, ele considerava seu mestre “o mais sábio e o mais justo dos homens”. Mas, Sócrates foi acusado de corromper a juventude por difundir ideias contrárias à religião tradicional e condenado a morrer bebendo cicuta na prisão. Acompanhando de perto a injusta acusação feita a Sócrates, Platão desencanta-se com a democracia ateniense.

Com Sócrates, o jovem Platão sentira a necessidade de fundamentar qualquer atividade em conceitos claros e seguros. Através do seu mestre, Platão reconheceu que o importante não era fazer política, mas fazer “a política”. 

Por isso, Platão recusa-se a participar, na mocidade, de atividades políticas, pois primeiro tinha de encontrar os fundamentos teóricos da ação política – e de toda ação – para orientar-se corretamente. 

Depois da morte de Sócrates e disperso o núcleo que se reunira em torno do mestre, Platão viaja. Visita Megara, vai ao sul da Italia (Magna Grécia) onde convive com Arquitas de Tarento, famoso matemático e político pitagórico que lhe dá o exemplo vivo do rei-filósofo: como pitagórico, ele aplicava à política o senso de proporção matemática. Mais tarde, no seu livro República, Platão apontará o rei-filósofo como a solução ideal para os problemas políticos. 

Nessa época, Platão compõe seus primeiros diálogos, geralmente chamados “diálogos socráticos”, pois tem em Sócrates o personagem central. 

Entre esses diálogos está a Apologia de Sócrates, que reproduz a defesa feita pelo próprio Sócrates diante da Assembleia ateniense que o julgou e condenou. Outros diálogos dessa fase constituem também defesas que Platão faz do seu mestre, mostrando que nem era ímpio nem pervertia os jovens. São os diálogos Críton, Laques, Lysis,  Cármides, Eutífron, Hípias Menor, Hípias Maior, o Protágoras, e o Ion. Platão começou a escrever  República nessa época. 

Em geral, os “diálogos socráticos” desenvolvem discussões sobre ética, procurando definir determinada virtude (coragem, Laques; piedade, Eutífron; amizade, Lysis; autocontrole, Cármides). Esses diálogos são aporéticos, ou seja, fazem o levantamento de diferentes modos de se conceituar aquelas virtudes, denunciam a fragilidade desses conceitos, mas deixam a questão inconclusa.

O próprio Sócrates preocupava-se antes com o desencadeamento do conhecimento de si mesmo e não propriamente com definições de conceitos. De qualquer modo, algumas teses socráticas básicas podem ser encontradas nesses diálogos, como a da identificação da virtude como certo tipo de conhecimento e a da unidade de todas as virtudes. 

Os outros diálogos dessa fase manifestam duas preocupações que permanecerão constantes na obra platônica: o problema político (como em Cármides) e o papel que a retórica pode desempenhar na ética e na educação (Górgias, Protágoras, os dois Hípias). 

A Academia

Cerca de 387 a.C., Platão funda em Atenas a Academia, sua própria escola de investigação científica e filosófica. O acontecimento é da máxima importância para a história do pensamento ocidental.

Platão torna-se o primeiro dirigente de uma instituição permanente, voltada para a pesquisa original concebida como uma conjugação de esforços de um grupo que vê no conhecimento algo vivo e dinâmico e não um corpo de doutrinas a serem resguardadas e transmitidas.

Platão disse que as atividades da sua Academia eram, antes de tudo, busca e inquietação, reformulação permanente e multiplicação das vias de abordagem dos problemas, ou seja, a filosofia era fundamentalmente “o filosofar” – esforço para pensar mais profunda e claramente. 

Depois das suas viagens, quando frequentou centros pitagóricos de pesquisa científica, Platão viu na matemática a promessa de um caminho que ultrapassasse as aporias socráticas – as perguntas que Sócrates fazia, mas afinal deixava sem resposta – e conduzisse à certeza. 

A educação deveria basear-se numa episteme (ciência) e ultrapassar o plano instável da opinião (doxa). E a política poderia deixar de ser o jogo de interesses nem sempre claros e pouco dignos para se transformar numa ação iluminada pela verdade e por um gesto criador de harmonia, justiça e beleza. 

Durante vinte anos Platão dedica-se ao magistério e à composição de suas obras. Sob forte influência do pitagorismo, escreve os “diálogos de transição” que marcam o progressivo desligamento das suas posições originais socráticas para expressar uma filosofia própria, a partir da nova saída para o problema do conhecimento, representada pela doutrina das ideias, formas incorpóreas e transcendentes que seriam os modelos dos objetos sensíveis (do mundo material). Isso aparece nos diálogos: Ménon, Fédon, Banquete, Fedro e Eutidemo. 

Parmênides, Teeteto, Sofista e Político são os diálogos da maturidade de Platão onde aparecem as primeiras formulações da sua “doutrina das ideias”, como já haviam aparecido vagamente no Fédon. Aqui, todo o pensamento platônico reestrutura-se a partir de bases epistemológicas (científicas) mais exigentes e seguras. 

O diálogo Filebo, da fase final de Platão, retoma o tema da felicidade. Ao morrer, Platão deixou uma obra inacabada: Leis. Nessa obra, ele retoma o problema político e altera teses expressas na República. Ele propõe uma conciliação entre a monarquia constitucional e a democracia.

O interesse juvenil pela política acompanhou-o até o fim da sua vida. O aprofundamento da consciência política foi um longo itinerário que permitiu a Platão a construção da primeira grande síntese filosófica do pensamento antigo e abriu horizontes de pesquisa ainda hoje explorados, servindo de inspiração e de estímulo a grandes aventuras do espírito.   

Na atualidade

Penso que podemos estender muito do pensamento do grande filósofo Platão à atualidade. Assim, por exemplo, as diversas atividades da Academia (universidade) devem ser, “antes de tudo, busca e inquietação, reformulação permanente e multiplicação das vias de abordagem dos problemas” (da pesquisa), ou seja, “o esforço para pensar mais profunda e claramente”.  

Platão disse ainda que “a pesquisa é uma conjugação de esforços de um grupo que vê no conhecimento algo vivo e dinâmico e não um corpo de doutrinas a serem resguardadas e transmitidas.”

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Notas de Lúcia Rocha: 

  1. Da palavra “Academia” vêm as palavras da atualidade “academia” (universidade, curso superior) e “acadêmico” (relativo à universidade).
  2. Platão (Atenas, 428-7 a.C.; 348-7 a.C., Atenas).


Fonte: Diálogos, Platão; Coleção Os pensadores, Introdução; 2ª ed.; SP: Abril Cultural, 1979 

Profª Lúcia Rocha

Imagem:

A Escola de Atenas, do pintor renascentista Rafael, retrata Platão (o idoso) com Aristóteles, seu discípulo. É um afresco que se encontra num dos museus do Vaticano, Itália. 

http://philosophiagrega.no.comunidades.net/imagens/platao_aristoteles.jpg.jpg

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