segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Pequeno Conto - O Novo Livro


Era uma vez um escritor de romances. Ele terminava de escrever seu primeiro livro pensando em agradar aos seus leitores. Seu melhor amigo havia feito as belas ilustrações, inclusive a capa. Além disso, seu português era excelente, por isso tinha tudo para logo tornar-se um sucesso de vendas. 

Manhã de sol. Terminado o romance, o escritor levou os originais imediatamente para a editora imprimi-lo. Ele não via a hora de ter um exemplar impresso nas mãos, o resultado de tanto trabalho e dedicação.  

O escritor foi embora, cheio de esperança.  O prestativo editor logo imprimiu milhares de exemplares do referido livro cuja capa tinha um colorido belíssimo: manchas em tons de vermelho, amarelo, azul e preto.   

Na manhã seguinte, os distribuidores chegaram na editora, pegaram os milhares de exemplares impressos do referido livro e encheram suas vans.  

Rodaram o dia todo e distribuíram os exemplares pelas centenas de livrarias do Brasil afora, no incansável trabalho de fazer chegar rapidamente o novo título às mãos dos fieis leitores. 

Na manhã seguinte, um leitor acostumado a boas leituras entrou numa livraria da Avenida Paulista. Logo viu muitos exemplares do novo livro, expostos pelas estantes e balcões da chiquérrima loja paulistana. Com um exemplar nas mãos, o leitor examina o título da obra e pensa consigo mesmo:

- “Os Estupefatos”... Que título interessante... bela capa. 

Nesse momento, o livro vira um objeto de desejo para o cliente que o quer comprá-lo. Sorridente e com o livro na mão, o cliente chama um vendedor. O cliente já estava saindo da livraria quando, de repente, lembrou-se da cunhada e também de um amigo, por isso, volta ao balcão e compra mais dois exemplares do livro.     

Depois do almoço, a livraria vai enchendo de clientes. Os ágeis vendedores preparam as embalagens coloridas, delicadas dobraduras que viram belos presentes para agradar a inúmeras pessoas. 

No alto da escadaria da loja, e na alegria de constatar o sucesso de vendas do novo romance, o atento gerente comercial arregaça as mangas e desce do seu posto de liderança para ajudar os jovens vendedores cercados de clientes. 

Logo, ele é confundido com “os meninos” das vendas, entusiasmados com os exemplares do novo livro que vão embalando e entregando agilmente aos clientes.   

No meio da tarde,  e reparando nos balcões quase vazios, o esperto gerente paulistano liga para a distribuidora para fazer um novo pedido do referido romance que já é um sucesso. Do outro lado da linha, o distribuidor responde:

- Tá um pouco atrasado... desculpe, são muitos os pedidos. Mas, fica tranquilo... hoje à noite você recebe tudo aí, sem falta.  

Eram mais de 20 horas. O movimento da livraria começa a aumentar novamente. Os clientes perguntam aos vendedores pelo novo romance que os amigos haviam comprado pela manhã e que eles também queriam. 

Um vendedor diz aos clientes:

- Temos uma entrega do livro daqui a pouco... fiquem tranquilos.  Se os senhores puderem aguardar... quem sabe um cafezinho... o pão de queijo da galeria é uma delícia.         

Em outro bairro na cidade de São Paulo, o autor do referido romance fala com o seu editor: 

- Lembra que eu te disse pra ir imprimindo a segunda edição do livro?   

-  Mas... 

- Não tem mais nem menos mais. Você não acreditou em mim...  falhou comigo... só porque sou novo no mercado editorial... 

 Aflito, o editor responde:

- Deixa eu te falar uma coisa... 

- Chega de conserva! Estou com um novo livro na cabeça e não posso perder tempo com esses detalhes. Inclusive, estou pensando em trocar de editor porque você...  

-  Deixa eu falar, cara. Você não me deixa falar!.. Tenho uma surpresa pra você! A essa hora, a segunda edição do teu romance já deve ter chegado...  nas livrarias, cara!   

-  Cê está brincando comigo? Ai, meu Deus, que emoção!

Já passava das 21 horas. Dois funcionários da livraria da Paulista receberam alegremente um novo carregamento com milhares de exemplares de “Os Estupefatos”, aquele cheiro gostoso de livro novo que entrou pela loja. 

Prestativos, diversos funcionários arrumam os livros em cima dos balcões.  

Zunindo como um enxame de abelhas,  os ávidos clientes correm para os balcões e avançam sobre os exemplares, pegando um, pegando dois. Os vendedores do primeiro período estavam fazendo hora extra para ajudar seus colegas do noturno. 

O gerente consulta seu relógio de pulso. Era hora de fechar a livraria. As portas de vidro cerram-se pontualmente, mas a loja fechada atende calmamente até o último cliente. Finalmente, o gerente pega a chave do carro e vai embora satisfeito pensando no novo best-seller.          


Profª Lúcia Rocha

Imagem: http://flores.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/cerejeira-1/Cerejeira-6.jpg

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